ENSINO NÃO É EDUCAÇÃO

 

Artigo publicado em 03/08/2017 - Monitor Mercantil

 

         Lecionamos no ensino superior durante 32 anos. Trabalhamos em Universidades públicas e privadas, exercendo cargos de coordenação e direção. Aprendemos muito em nosso ofício e continuamos a aprender. O principal fator de Desenvolvimento Econômico de um país reside na educação do povo. E entenda-se Educação em seu conceito mais amplo, abrangendo desde a transmissão de princípios e valores pela família, passando pelo ensino formal, até chegar ao processo de absorção de informações efetivado através de outros canais, como a leitura voluntária, as notícias dos meios de comunicação etc.

         Não conhecemos qualquer país pertencente ao seleto grupo dos mais desenvolvidos que tenha atingido tal posição, sem antes ter feito um investimento maciço no ensino. Foi assim nos EUA, no Japão e agora na Índia e na China. E o esforço deve principiar pelo ensino básico, de boa qualidade, de caráter universal, obrigatório. A base é fundamental. E o critério de ingresso e de aprovação deve ser o mérito. A utilização de experiências exóticas importadas de outras culturas e rincões deve ser evitada.  Inclusive, algumas já abandonadas por eles, como o sistema de cotas para alunos da etnia negra ou outras. É uma forma de discriminação odiosa e de verdadeira agressão aos supostos "beneficiados". É o início do fim. Depois, virá a "aprovação automática" nas Faculdades, como no primeiro grau. As consequências são conhecidas. Crianças que, após quatro anos na Escola, ainda são analfabetos funcionais. Apenas cotas sociais para estudantes carentes oriundos do ensino público são aceitáveis até que se melhore a sua qualidade.

         Vamos formar o que? Não é isto que o Brasil necessita e precisa. É dever de o Estado propiciar ensino gratuito e de excelente qualidade em todos os níveis a todos. O primeiro grau, de responsabilidade municipal, o segundo grau, de âmbito estadual e o terceiro grau, da União, principalmente. Isto não quer dizer que não existam excelentes Universidades estaduais ou excepcionais colégios federais, como o Pedro II e o Militar. A desculpa da inexistência de recursos é ridícula. Há recursos para pagar cerca de R$ 500 bilhões de juros da dívida interna em 2016. Apenas no primeiro semestre do ano em curso foram pagos cerca de US$ 20 bilhões de juros, lucros e dividendos ao resto do mundo.  O total de investimentos aplicado em saúde e educação pela administração federal não chega a uma parcela do valor desperdiçado em juros. O resultado foi o de que o segmento financeiro, isolado, foi o mais lucrativo de todos, em 2016, auferindo lucros exorbitantes. É um escândalo! Além da transferência de recursos do setor produtivo para o setor financeiro, a administração governamental ainda os desperdiça, deixando de investir em infraestrutura econômico-social para enriquecer os banqueiros nacionais e internacionais.

         É imperioso salientar que, a exemplo dos setores saúde, energia, comunicações e transportes, também na educação, houve, nos últimos 20 anos, seu progressivo esvaziamento, com a queda progressiva de investimentos públicos e o consequente avanço do segmento privado em todos eles. E a deterioração crescente dos serviços prestados, em especial no ensino do 3° grau. Atualmente, a iniciativa privada responde por cerca de 80% dos alunos matriculados no ensino superior. O ensino público está sendo destruído implacavelmente, a cada ano. Os profissionais são mal pagos. As funções de extensão e pesquisa vão sendo abandonadas, por "escassez de recursos". As instalações e equipamentos estão em processo de sucateamento. E a administração federal apresenta como solução o aumento de vagas em instituições privadas de ensino de 3° grau, em troca da isenção de pagamento de contribuições e tributos. Pura demagogia! É mais um subsídio para os empresários particulares de ensino. Por que não investir na Universidade Pública e aumentar seu número de vagas? Para não concorrer com as instituições privadas de ensino superior?

         A grande maioria delas apresenta a seguinte situação. Os empresários estão em excelente situação econômica. Enquanto seus alunos não conseguem empregos no "mercado", seus filhos, noras e genros são contratados, em excelentes situações financeiras, com posições de comando, por "coincidência", nas suas faculdades. Passam a dirigir aqueles que foram seus professores ontem. Se pelo menos tivessem competência e valor. Mas galgaram os novos postos por herança, não por mérito. Os alunos pagam valores expressivos. E os profissionais de ensino, professores e outros funcionários, estão sendo demitidos sumariamente, para diminuir custos. Os currículos são alterados para agrupar turmas de cursos diferentes. Seus salários, 13°, reajustes estão atrasados, há meses. Recebem declarações de rendimentos que não foram pagos. Quando pedem à Caixa Econômica o FGTS devido, recebem a notícia de que os valores não são depositados há anos. São obrigados a recorrer à Justiça e demorar anos para receber a importância devida. Comenta-se que os valores recolhidos na fonte para INSS, Receita Federal etc. não são recolhidos. Várias Universidades usam o contrato temporário. E ganham milhões sempre. E a qualidade de ensino desaba. É este o modelo padrão do futuro ensino no país? E nenhuma autoridade faz nada.

         As famílias são obrigadas a trabalhar o dia inteiro para sobreviver. Pais e mães não conseguem mais contato físico regular com seus filhos, que são criados pelos avôs, babás ou creches. Muitos são sustentados pelos pais, pois não conseguem emprego. Muitas TVs abertas produzem "lixos culturais". Alguns meios de comunicação empreendem uma verdadeira "lavagem cerebral", inoculando na juventude conceitos e informações falsas, promovendo perversões, anomalias comportamentais e vícios, procurando destruir as Instituições e os princípios e valores legados por nossos antepassados. Com este panorama será difícil reverter a anarquia reinante.

         Sabemos o que fazer. É necessário empreender uma verdadeira revolução. O ensino ministrado nos órgãos pertencentes às três Forças Singulares e pelas forças auxiliares é o exemplo a ser seguido. O como fazer é o problema a ser enfrentado pelos especialistas no importante tema, que devem estabelecer as estratégias adequadas, sem ranço ideológico ou sendo reféns do politicamente correto.