DETERIORAÇÃO
DAS INSTITUIÇÕES
Artigo publicado em 20/08/2015 - Monitor Mercantil
Economista Marcos Coimbra
Professor, Membro do Conselho Diretor
do CEBRES, Acadêmico Fundador da ABD e Autor do livro Brasil Soberano.
As Instituições podem ser classificadas como
reguladoras e operativas. Reguladoras são aquelas de função normativa, que
controlam o funcionamento de uma parte diferenciada da estrutura social, a qual
visa a atender necessidades vitais do grupo como, por exemplo: Família, Igreja,
Estado, Escola etc. As operativas dizem respeito aos órgãos, serviços ou entidades,
tais como o Congresso Nacional, o Tribunal do Júri e os Correios, sobre as
quais é desnecessário qualquer comentário.
Todas as Instituições Nacionais atravessam um
tenebroso processo de deterioração na atual conjuntura. Vamos analisar as reguladoras,
com ênfase na expressão psicossocial. Partindo da Instituição Família, a mais
importante de todas, não é difícil realizar um diagnóstico. Extremamente
fragilizada, ela é enfraquecida por atravessar uma fase de transiência, onde os
valores de gerações anteriores foram abandonados e não foram erigidos valores
novos em sua substituição. Em especial, os jovens são expostos desde cedo a
agressões do cotidiano, sejam elas reais ou virtuais.
As reais principiam pelas consequências perversas
do processo de globalização em curso, caracterizado pela exclusão social, pelo
desemprego, pela implantação do capitalismo selvagem, pelo desencanto, pela
perda do referencial moral e ético. As virtuais, representadas pelo avanço das
comunicações, apresentam, além do tão decantado lado
positivo de democratização à informação, também seu
lado negativo, com a exposição de mentes sem maturidade, a uma quantidade
vultosa de informações, muitas vezes de qualidade perniciosa.
É muito difícil conseguir um trabalho
decente, capaz de proporcionar uma vida digna a todos os integrantes do núcleo
familiar. Geralmente, em toda unidade familiar existe pelo menos um
desempregado ou um subempregado. Os mais velhos, com os parcos recursos
oriundos de suas minguadas aposentadorias, cada vez mais são os responsáveis
pelo sustento dos seus descendentes. São
submetidos a uma desumana carga tributária, onde predominam tributos indiretos
regressivos e também diretos incidindo sobre seus magros estipêndios, ao mesmo
tempo em que a autoridade pública isenta total ou parcialmente do pagamento dos
tributos devidos as grandes corporações. Seus rendimentos não são reajustados
adequadamente há anos, ou o são em percentuais mínimos, ocasionando a crescente
queda do poder aquisitivo dos detentores de renda fixa, trabalhadores,
aposentados, pensionistas, crescentemente endividados, pelo furor consumista,
graças à concessão do crédito irresponsável.
A contrapartida que deveria ser
fornecida pelo setor público é de inferior qualidade. A Escola, em especial a
pública, está nos seus estertores, esmagada pelo corte de recursos
orçamentários e por iniciativas demagógicas, como as denominadas
"cotas", bem como pelo nefasto sistema de “aprovação automática”.
Professores da rede pública são agredidos dentro das unidades por alunos e até mesmo por
“responsáveis” dos mesmos. O narcotráfico impõe suas regras a todo o conjunto
discente e docente. São incluídas no currículo disciplinas desnecessárias, em
função de razões ideológicas, enquanto os alunos revelam-se analfabetos
funcionais, ao final do processo. São incapazes de inserção no mercado.
Na Saúde não é diferente. As condições de nossos
hospitais públicos, com raras exceções, a despeito dos esforços hercúleos dos
profissionais, são inferiores a de clínicas veterinárias. Daí, o cidadão é
obrigado a gastar para pagar empresas particulares não só de saúde, como também
de educação e até previdência, pois com as mudanças impostas nos últimos
tempos, poucos vão conseguir obter aposentadoria daqui a alguns anos. Serão
obrigados a trabalhar até a morte ou então se aposentar para voltar a
trabalhar. Os serviços concedidos, como energia, comunicações, são reajustados
em dólar, periodicamente, através de contratos generosos para as empresas, em
sua maioria, multinacionais.
O Estado democrático de direito no país é uma
ficção. Rouba-se em todos os níveis. A máquina do governo, em seus três
âmbitos, federal, estadual e municipal, compra corações e mentes. A Igreja atravessa talvez a pior crise de sua
história, dividida entre diversas denominações e fragmentada pela infiltração
de facções político-partidárias. As Forças Armadas estão sob o jugo de um
“estranho no ninho”.
A concentração de renda é brutal. Com a
proletarização da classe média, encontramos, de um lado, os miseráveis e, do
outro lado, uma minoria privilegiada, intocável, que assegura seus privilégios
sempre, seja qual for a administração eleita. A
administração federal concede aos pobres a famigerada Bolsa Família, em
quantitativo irrisório, em comparação ao pago através da “Bolsa Banqueiros”
concedida ao segmento financeiro, não por acaso, o principal financiador de
campanhas eleitorais, em conjunto com as empreiteiras.
Os estragos
provocados pelo consumo das drogas lícitas e ilícitas crescem a cada momento. E
há irresponsáveis empenhados em agravar o problema, defendendo a
descriminalização das drogas e a proibição da comercialização e posse de armas
de fogo pelo cidadão honesto, digno e de bons costumes. Estas pessoas não
entendem que os consumidores de drogas, lícitas ou ilícitas, são dependentes
químicos e como tal devem ser tratados, pois são doentes.
Eis uma modesta contribuição para a
agenda dos futuros detentores do poder político no Brasil, onde não há oposição
verdadeira.