CONJUNTURA BRASILEIRA - I

Artigo publicado em 12/03/2015 - Monitor Mercantil

Economista Marcos Coimbra

Professor, Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e Autor do livro Brasil Soberano.

            É necessário avaliar a moldura internacional de início, com o objetivo de enfocarmos a conjuntura brasileira. As causas menos próximas das agruras sofridas nos tempos atuais residem na ação dos “donos do mundo”, representados pelos grupos que controlam o sistema financeiro internacional e por via de consequência as economias de praticamente todos os países do mundo. Houve o surgimento dos megablocos econômicos (UE, Ásia) e de uma potência hegemônica, principalmente na expressão militar, os EUA. Consolidaram-se idéias recorrentes sobre neoliberalismo e globalização, com suas consequências positivas e negativas e a imposição de diretrizes (estabilidade monetária, privatização, liberação de importações, acordo de marcas e patentes com cláusula de retroatividade etc.) aos países extratores de matérias primas, dentre os quais o Brasil pela Trilateral, em especial através da atuação do de órgãos como o Diálogo Interamericano (criado em 1982), expresso pelo chamado Consenso de Washington, em 1988.

            Como causas mais próximas identificamos, principalmente com o “estouro” havido em 2008, que teve como disparador da grave situação existente a quebra do Lehman Brothers, as taxas de juros artificialmente baixas praticadas pelo Fed, o enorme déficit orçamentário do governo americano, graves falhas de regulamentação, capazes de elevar o grau de risco e alavancagem do seu sistema econômico, a expressiva manipulação da taxa de câmbio pela China e outros. No presente, identificamos recessão econômica na UE e no Japão, desaquecimento do ritmo de crescimento da China e breve recuperação nos EUA. São algumas razões da queda do preço do petróleo e das “commodities”, no mercado internacional. Porém, é óbvio que a queda do preço do barril do petróleo do patamar de cerca de US$ 100,00 para um nível pouco acima de US$ 50,00 objetiva inviabilizar outras fontes concorrentes como o gás de xisto e o petróleo de xisto produzidos pelos EUA e possivelmente o nosso pré-sal, bem como prejudicar grandes exportadores como Rússia, Irã e Venezuela, beneficiando os grandes importadores do “ouro negro”.

            Como principais razões do ataque à soberania brasileira, encontramos a explicação nas seis crises mundiais previstas: energia, alimentos, água doce, matérias primas de natureza mineral, bens do reino vegetal e produtos de origem animal. Ora, a fonte principal destes recursos está na Amazônia. Então, identificamos as ações principais inimigas, tais como abusiva demarcação de terras indígenas pela Funai, assinatura da Declaração Universal dos Direitos dos Indígenas em 2007; autorreconhecimento de áreas Quilombolas e outros. Não é difícil concluir: quem controlar a região amazônica será a potência do terceiro milênio. Esperamos que seja o Brasil, porém a pressão é muito grande para retirada da rica região de nossa jurisdição.

            Como principais pontos positivos para enfrentar a difícil situação do país, elencamos: Elevado nível de depósitos compulsórios; Reservas internacionais em torno de US$ 370 bilhões; Nível de desemprego ainda razoável (6,8 %-IBGE-PNAD e 9,8 %-DIEESE-SP), mas crescente; Renda ainda pouco afetada, mas com perspectivas de agravamento; Pacotes da construção civil, PACs 1 e 2,  Logística , desde que concluídos; Aumento expressivo do salário mínimo nos últimos anos, garantindo um aumento de renda para camadas pobres ( dois terços dos beneficiários do INSS recebem o mínimo), bem como políticas anticíclicas  adotadas à época.

            Como principais pontos negativos, verificamos: Inexistência de um Projeto Nacional de Desenvolvimento; Déficit nominal de  6,7 % do PIB em 2014; Alto nível de compromissos fiscais assumidos em gastos correntes de pessoal e custeio e dívida bruta acima de 64% do PIB; Taxa de inflação alta, tendendo a superar 7% em 2015; Segunda  maior taxa real de juros do mundo (acima de 5%); Nova crise  pode provocar o retorno de parte das pessoas que obtiveram ascensão social para sua condição anterior; Gargalos da infra-estrutura;  Qualidade precária da mão de obra; Baixa taxa de investimentos (abaixo de 18% do PIB) e elevada carga tributária (acima de 36% do PIB); Passivo externo bruto superior a US$ 1.500 bilhões- jun/2014; Cenário global  emite sinais negativos ,  reduzindo a demanda pelos produtos exportados pelo país (“commodities”) e queda de preços, sendo o país ainda vulnerável às oscilações nos ciclos de créditos; Vulnerabilidades do comércio exterior brasileiro, em virtude de não termos respondido a tempo aos desafios internos:  estrutural, operacional e exógeno; Consequências de medidas de combate à inflação; Taxa negativa de crescimento do PIB em 2015; Elevado déficit  no BPTC (mais de 4% do PIB).

            A capacidade do Poder Nacional pode ser descrita na forma a seguir: Deterioração de quase todas as Instituições Nacionais (família, escola etc.); Executivo aparelhado partidariamente; Legislativo inteiramente cooptado, incapaz de exercer suas funções; Judiciário acuado , com conflitos permanentes e a emblemática situação de liberação dos principais chefes do “mensalão” e continuação na cadeia dos operadores; Corrupção endêmica alcançando praticamente todos os segmentos da sociedade; Ausência de oposição verdadeira aos ditames do Foro de São Paulo; Política externa lesiva aos interesses nacionais, incapaz de defender os Objetivos Nacionais Brasileiros, refém da tendência de criação da URSAL no continente.

Prosseguiremos a análise na próxima semana.