TIRANIA DA IMPRENSA AMESTRADA

Artigo publicado em 27.06.2002 no Monitor Mercantil.

Prof. Marcos Coimbra

Prof. Titular de Economia na Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG

         Os meios de comunicação no Brasil são dominados por cerca de seis famílias. E, ao contrário de outros países, como, por exemplo, os EUA, onde o grupo, possuidor de TV, não pode ter rádio e jornal, ao mesmo tempo, e vice-versa,  ou então operam em cadeia regional, para permitir a livre concorrência, aqui uma única rede tem o controle de mais de 60% da audiência. E as relações com o poder econômico e as autoridades públicas, são incestuosas, seja em nível de direção, seja a nível intermediário. Os proprietários dos meios de comunicação precisam de verbas de publicidade, de anúncios das empresas e da propaganda oficial para sobreviverem. Ninguém vive com os recursos oriundos da venda em banca ou de assinaturas.

         Na esfera intermediária, de um modo geral, os editores, colunistas e jornalistas ganham pouco, mas possuem um elevado padrão de vida. Assim, são vulneráveis a convites para ocupar cargos de assessoria de relações públicas, formal ou informalmente. Até empresas de publicidade são usadas como "biombo" para essas consultorias altamente rentáveis. Isto sem considerar o engajamento político partidário notório de vários articulistas. Desta forma, fica difícil esperar imparcialidade do chamado quarto poder, o da imprensa, em especial da mídia amestrada, assim denominada em virtude de estar cooptada pelos "donos do mundo" e pelas administrações federal, estadual e municipal. Existem até “as meninas de FHC”, jornalistas que, distribuídas pelo Brasil, recebem benesses do Planalto para divulgar apenas aquilo que interessa à administração central.

         Nas eleições passadas, a mídia amestrada, em estreita colaboração com os institutos de pesquisa de opinião pública, mostrou claramente seu poder. Vetou os candidatos oriundos de partidos ditos pequenos. Privilegiaram os quatro candidatos mais divulgados pela própria imprensa, em especial aqueles apoiados pelo sistema.  De acordo com os interesses dos primeiros colocados, ora proporcionavam algum destaque temporário, periodicamente, aos outros. Dois por serem de grandes partidos de sustentação da administração federal. Outro por ter muitos simpatizantes no meio artístico, em função de suas idéias.

         Os demais candidatos eram ignorados, sabotados, a pretexto de serem oriundos de partidos pequenos, infringindo totalmente a legislação eleitoral que determina tratamento igualitário para  todos os candidatos. Afinal, os candidatos dos partidos considerados  pequenos já são brutalmente discriminados pela legislação vigente, no que concerne ao horário eleitoral gratuito, pois apenas 1/3 do tempo é dividido igualmente. O restante é função do tamanho da bancada federal.  Isto leva ao despropósito de um candidato ter 42 segundos  e outro mais de 8 minutos para apresentar suas idéias.

         Outros debates  ocorrem, mas a imprensa nada noticia, pois os denominados candidatos fortes em geral  não comparecem. E o espaço destinado aos candidatos nos jornais e TV, principalmente, era desproporcional. As emissoras de rádio é que foram mais fiscalizadas. Por que? Talvez porque elas operem em concorrência mais próxima ao ideal, não havendo monopólio, nem oligopólio.

         Agora mesmo, os meios de comunicação apenas divulgam fatos e entrevistas aos quatro candidatos apresentados pelos “donos do mundo”, a pretexto de que são os primeiros colocados nas pesquisas, realizadas antes das convenções de junho e pagas por empresas ligadas a um dos quatro. A renúncia do Dr. Enéas Carneiro representa, na prática, a impossibilidade de permanência de um candidato sem o beneplácito do sistema. E ele, em 1994, obteve a 3ª maior votação no pleito para presidente, alcançando quase 9% dos votos válidos, ou seja, perto de cinco milhões de votos. Depois, não entendem quando aumenta o número de votos nulos, em repúdio à ditadura reinante.

         E o mais interessante é ler os editoriais furibundos dos jornalões vociferando contra a igualdade de tratamento, que nunca cumpriram. E o ataque aos partidos ditos pequenos, esquecendo que vários dos atuais grandes foram pequenos, como o PSDB e o PT. E cresceram. Afinal, os partidos são pequenos porque o sistema não deixa que eles sejam grandes ou o sistema ignora-os porque são pequenos? A imprensa costuma também invocar a cláusula de barreira (extinção, na prática, dos partidos que não tenham votação superior a 5% do eleitorado, por exemplo), esquecendo que, na Democracia, os partidos políticos são legítimos canais de comunicação entre o povo e o governo. Se determinadas correntes de pensamento forem proibidas de participar legalmente, elas  poderão utilizar outros meios para alcançar o poder. Aliás, a idéia, caso aprovada, poderia ser estendida aos meios de comunicação. Imaginem uma cláusula de barreira para a imprensa? As emissoras de rádio e TV com menos de 5% de audiência teriam suas concessões cassadas. Jornais com menos de 500.000 exemplares de tiragem diária também seriam vetados.  Não seria um atentado contra a liberdade de expressão? É necessária uma urgente reformulação da legislação em vigor, para, por exemplo, proporcionar tempo igual a todos os candidatos, aprovados pela Justiça Eleitoral, a cargos majoritários, como é feito no 2º turno.

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