TEMPOS DIFÍCEIS

Artigo publicado em 03.05.01 no Monitor Mercantil.

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia na Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG

O presidente FHC dirigiu-se à platéia, recentemente, em cerimônia pública, realizando um pronunciamento que provocou um enorme susto na audiência. Parece que ele está falando de um outro país, sobre o qual não tem qualquer ingerência. Ele chegou a afirmar que sente "asco por esta onda de corrupção vivenciada pela nação". Parece que não tem nada a ver com isto. Ou não são os denunciados de hoje, aliados ou ex-aliados de ontem, que garantiram a aprovação de sua reeleição, com a utilização de métodos nada ortodoxos? Ao assistir ao inacreditável no Congresso Nacional, em especial no Senado Federal, lava as mãos, como Pilatos. Afinal, estão em jogo seu antigo e subserviente líder na Casa, o atual e o ex-presidente do Senado, cada um representando um dos principais partidos em que sua administração está sustentada. Ou peca por conivência ou por omissão, caracterizando uma possível prevaricação.

Quando demite um auxiliar, consegue nomear um pior para o seu lugar. É a administração dos amigos e dos pavões. Continua, insensível, aos reclamos do povo, a concretizar a privatização selvagem, por imposição externa, desnacionalizando a economia brasileira e destruindo o parque produtivo. É irredutível ao não conceder reajuste aos servidores públicos civis durante os seus seis anos de mandato, mas é extremamente sensível aos reclamos das empresas, em especial as que foram privatizadas e fornecem serviços essenciais (comunicações, distribuição de energia, transportes e outras), as quais reajustam seus preços freneticamente, bem como das reivindicações do sistema financeiro, o qual continua a ganhar no Brasil o que perde na Argentina.

O pagamento dos tributos é feito, quando em parcelas, com a imposição da taxa Selic + 1% ao mês de juros, como, por exemplo, no caso do imposto de renda. Na calada da noite, subrepticiamente, chegaram a incluir na medida provisória no. 1963-17, de 30.03.00, que dispõe sobre a administração dos recursos de caixa do Tesouro Nacional, consolida e atualiza a legislação pertinente ao assunto e dá outras providências, no artigo 5º : " Nas operações realizadas pelas instituições integrantes do sistema financeiro nacional, é admissível a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano". Representa a cobrança de juros sobre juros. É a exploração brutal!

Agora, com a crise de energia nas regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, enquanto sobra energia no Norte e no Sul, procura atribuir a culpa a São Pedro. A responsabilidade única é de seu desgoverno, incapaz de possuir um projeto para o país, irresponsável ao não prever e prover os recursos necessários à geração e ao reforço das linhas de transmissão, com a preocupação única de cometer o crime de lesa-pátria de "doar" Furnas. E como solução apresenta a idéia de um racionamento disfarçado, via principalmente restrição ao consumo residencial, com a imposição de multas de até vinte vezes o valor do consumo excedente, em relação ao mesmo período do ano anterior. E o pior. Pela proposta apresentada, os recursos auferidos, ao invés de serem canalizados para o aumento de investimento na geração e transmissão de energia, irão para os cofres das empresas de distribuição privatizadas, como a Light, no Rio de Janeiro, que é uma estatal francesa. Imaginem se o oposto ocorresse. Cairia a administração francesa, pelo clamor público. E tudo é feito sem reação daqueles que deveriam agir e são pagos para isso. São fatos inquestionáveis capazes de comprovar a assertiva de que a atual administração FHC só governa para uma minoria da população, para a elite financeira. Para eles, tudo é permitido. Para os 95% restantes da população, sobram a recessão, o desemprego, a pobreza, a miséria, a desesperança.

O presidente FHC "comanda" um grupo de indivíduos, sem o mínimo compromisso com os Objetivos Nacionais Brasileiros, sem elaboração de uma Política Nacional ou de uma Estratégia Nacional. È uma verdadeira "legião estrangeira", sem a coragem da original. Limita-se a cumprir as determinações do FMI, um mero agente do sistema financeiro internacional. Os principais cargos de importância são ocupados por fiéis seguidores do neoliberalismo e do "globoritarismo"(totalitarismo da globalização), a maioria constituída de ex-empregados ou ainda empregados, não oficialmente, ou futuros empregados dos "donos do mundo". Com os vastos recursos financeiros disponíveis, controlam a mídia amestrada, comprando os principais formadores de opinião ou garantindo a cumplicidade dos principais veículos, através da colocação de publicidade farta, que garante a sobrevivência destes grupos.

A oposição é tíbia, fraca, em parte já cooptada, e seu principal partido é qualificado como "partido da boquinha" pelo governador do Estado do Rio de Janeiro. As instituições são progressivamente atacadas, com o propósito de imobilizá-las. É um desmonte geral. Será muito difícil promover uma mudança no sistema de poder existente, enquanto perdurar a aliança entre a grande burguesia nacional e o capitalismo apátrida, ou seja, a aliança entre as oligarquias locais e o sistema financeiro internacional. Entretanto, é inevitável o progressivo aumento da área de conflito entre estes dois segmentos. Os empresários nacionais, depois de muito tempo em letargia, começam a perceber que seus negócios ou serão vendidos aos alienígenas, ou sucumbirão, indo à falência. Não há saída. A entrada do Sr. George Soros no Brasil, a exemplo do ocorrido na Argentina, mostra claramente isto. Quando houver a ruptura entre eles, então surgirá a oportunidade de vitória de um candidato verdadeiramente de oposição ao processo de recolonização do Brasil, atualmente em plena expansão.

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