TEMPESTADE NO HORIZONTE

Prof. Marcos Coimbra

Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e da Academia Nacional de Economia e Autor do livro Brasil Soberano.

Artigo publicado em 11.08.11 no MM.

 

Uma análise realista desenvolvida a partir da observação dos fatos existentes no contexto mundial alerta claramente para os óbices surgidos, em especial a partir da crise mundial de 2008.

A maior economia do mundo, a dos EUA, conseguiu a duras penas um acordo de discutível eficácia, em uma verdadeira queda de braço política entre governo e oposição, ganhando fôlego por mais algum tempo. Além disto, sofreu o rebaixamento da sua nota de crédito soberano pela agência de risco Standard & Poors para AA+, algo improvável de ser imaginado tempos atrás. Caso não tivesse o poder de emitir a moeda padrão do mundo, possivelmente a situação seria muito pior. Aliás, ganha consistência a necessidade de abandono do dólar com esta qualidade. De fato, nenhuma moeda de qualquer país deveria ter esta função. Lembramos que Lord Keynes, na década de 40, já pregava a criação do bancor, uma moeda escritural, contábil, cujo valor seria calculado com base em uma cesta de moedas, as mais estáveis do mundo. Sua tese foi derrotada por White, representante dos EUA em 1944, em Bretton Woods,  que conseguiu impor o dólar como moeda padrão, com conversibilidade em ouro.

Uma das principais causas desta grave vulnerabilidade da economia dos EUA reside justamente nos excessivos gastos com várias frentes de guerra desencadeados pela potência hegemônica. São centenas de bilhões de dólares aplicados no Iraque, Afeganistão, Líbia e outros países, em operações abertas ou clandestinas. Se por um lado alimenta o complexo militar-industrial americano, por outro lado ocasiona sucessivos e crescentes déficits em transações correntes e orçamentários. A justificativa é óbvia. Obter o controle das principais fontes de recursos naturais, em especial o petróleo. Porém, o retorno do “investimento” demora, além de estar havendo uma reação inesperada por parte dos países atacados. As medidas adotadas vão beneficiar o sistema financeiro e prejudicar, como sempre, a atividade produtiva e o povo norte-americano. Persiste a ameaça de ocorrer um “duplo mergulho”, ou seja, uma nova  recessão, conforme prevê Nouriel Roubini.

Na União Européia a situação não é melhor. A grave crise sofrida pelos “PIIGS” (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha), de difícil solução, até com ameaça de saída de vários países da zona do Euro, é extremamente preocupante. A única economia forte da área é a da Alemanha, seguida pela França em posição bem mais modesta. Como há uma moeda única, em caso de crise, não existe a possibilidade de desvalorização da moeda, medida adotada pela maioria dos países em dificuldade. Então, somente uma sintonia fina entre todos os países da União poderia resolver o problema. E isto é praticamente impossível de obter, ainda mais considerando a disparidade existente entre eles, em especial na expressão econômica. A China inicia um processo de desaceleração econômica e o Japão continua em crise.

Desta forma, os ventos mudaram. De céu de brigadeiro, passamos a enfrentar mar tempestuoso. Evidentemente, nossa economia será afetada. Não podemos mais contar com um cenário internacional favorável. A grande questão é saber se temos condições de enfrentar com sucesso os desafios. Até agora foi fácil a gestão econômica. Agora é que vamos testar a qualidade de nossas autoridades econômicas. Chegou a hora da verdade.

Ainda temos vários fatos portadores de futuro a considerar. Assim, não há como ignorar a inexistência de um Plano Nacional de Desenvolvimento, o processo de desnacionalização da economia brasileira, a progressiva desindustrialização da nossa economia,  a crescente “Bolha” de crédito, incluindo a valorização excessiva no mercado imobiliário das grandes cidades, o chamado Custo Brasil, a inflação crescente, e principalmente,  a  corrupção desenfreada, já banalizada, e o nepotismo generalizado.

Nossos recursos humanos, em seus três níveis (básico, médio e superior) não atendem, nem quantitativa, nem qualitativamente, às necessidades e carências exigidas. A administração petista não possui um projeto de governo, mas sim de poder. A equipe de Dilma é extremamente fraca. O critério de escolha dos administradores exclui o mérito, na maior parte dos casos, atendendo a critérios não republicanos. A taxa de investimentos não consegue ultrapassar 19% do PIB, quando o mínimo indispensável seria de 25%. O nível de investimentos em pesquisa patina abaixo de 1% do PIB. A variável meta econômica limita-se ao controle da inflação, ao invés de buscar o pleno emprego.

O Legislativo revela-se incapaz de cumprir com sua missão constitucional. A maioria de seus componentes foi cooptada por intermédio de cargos, emendas orçamentárias e outras medidas. O Judiciário é progressivamente infiltrado, através da nomeação dos integrantes dos tribunais superiores de agrado dos atuais detentores do poder político.

Oxalá tudo dê certo. Esperemos que Deus seja brasileiro de fato.

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