OS MALIGNOS

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor aposentado  na UERJ e Conselheiro da ESG.

Artigo escrito em 26.12.2005 para O Monitor Mercantil

 

         Existem pessoas que pensam 24 horas por dia em como tirar dinheiro principalmente da classe média e dos menos favorecidos, tanto na esfera pública como na área privada. São os malignos, criaturas do mal.

         No setor público, criam dificuldades para gerar facilidades. Há dezenas de impostos, taxas, contribuições tarifas e cobranças de toda ordem. Aumentam arbitrariamente as alíquotas. Inventam justificativas pueris para extorquir o cidadão. Recentemente chegaram a aumentar o DPVAT em mais de 40% e instituíram uma absurda cobrança até da confecção de placas de automóveis. Ao mesmo tempo, diminuem a alíquota do IPTU de supermercados para quase a metade e beneficiam os segmentos financeiro e bancário, que, apesar de usufruírem o maior lucro da história, praticamente nada pagam de imposto de renda em comparação com o assalariado. É a tática “Hood Robin”: tirar dos pobres e remediados para dar aos ricos, ao contrário do lendário aventureiro Robin Hood. A indústria de multas prospera inclusive com a sociedade de empresas privadas.

         A cada mudança na legislação ocorre mais um assalto ao contribuinte. Tanto na esfera federal, como na estadual e na municipal. Os governantes estão cada vez mais ricos. Vão à Europa como o cidadão comum vai à Niterói. Gastam fortunas em festas suntuosas e segurança para si e para seus parentes. Transmitem o mandato legislativo de pai para filho, de marido para mulher, de irmão para irmã, de avô para neto, ancorados em uma sólida base assistencialista e  clientelista, usando a corrupção. O empreguismo é desenfreado. E o pior. Pouco é dado em contrapartida. As estradas estão resumidas a uma sucessão de crateras (vide BR-101), a energia vai entrar em colapso em mais dois anos caso o Brasil volte na crescer acima de 5% ao ano. As comunicações foram entregues a corsários alienígenas. A saúde pública está abandonada. A educação pública, refém de cotas, forma analfabetos funcionais. A segurança pública desapareceu. A previdência pública está sendo deliberadamente quebrada, para propiciar o crescimento da previdência privada. O país cresce como rabo de cavalo. Para baixo. Enquanto isto, os demais países pertencentes aos BRICS, China, Índia e Rússia crescem. São nações soberanas e em desenvolvimento. Mas lá os corruptos são exterminados com um tiro na nuca e a família ainda paga a bala.

         Na esfera privada, progressivamente toda a atividade produtiva vai sendo comprada pelo segmento financeiro. Outro dia fomos fazer uma compra na loja de venda de materiais de construção C&C. A conta foi de cerca de R$ 2.600,00. Pedimos para fazer o pagamento à vista, indagando qual o desconto. O gerente informou que podíamos pagar em seis vezes no cartão de crédito, “sem juros”. Insistimos no pagamento à vista, tendo ele informado que concederia um desconto de 10%. Quando a nota estava sendo impressa, verificamos que o desconto tinha sido de R$ 70,00, ao invés de R$ 260,00. Curiosos, perguntamos a razão, tendo a gerência dito que somente poderia conceder desconto sobre os itens que não estavam em promoção. Lógico que fomos obrigados a comprar no cartão, mas perguntamos se não era a financeira que ganharia com a operação.

         Ele concordou, dizendo ainda que a taxa de juros era de 4,85% ao mês. Argumentamos se não seria o caso de a empresa receber o numerário à vista, deixando de pagar os juros de 6 meses. O gerente foi inflexível, não aceitando nossas razões. Quando estávamos saindo, já no caixa, sem nada entender, perguntamos de quem era aquela loja. A resposta foi: Banco Alfa. Para os não iniciados, o citado Banco é de propriedade do banqueiro Aloísio Farias, ex-dono do Banco Real, vendido a um grupo estrangeiro por bilhões de dólares. E o citado Banco é apenas para o Dr. Aloísio ocupar-se. Fazendo uma breve pesquisa, descobrimos que o banqueiro é proprietário de quase 100 empresas. Nossa curiosidade foi aguçada. Em uma pesquisa menos superficial, constatamos então que a maioria das 500 maiores empresas do país pertence ao setor financeiro, direta ou indiretamente.

         De fato, o segmento especulativo no Brasil agora usa empresas comerciais e industriais para captar clientes cativos e lucrar, de fato, no giro do dinheiro. É por esta razão que, atualmente, é muito difícil comprar à vista em qualquer loja. O desconto oferecido não compensa, quando é comparado com a possibilidade de pagamento no cartão de crédito, em várias parcelas, “sem juros”. É óbvio que o valor dos juros já está embutido no preço estipulado da mercadoria oferecida. Veja, caro leitor, as ofertas das principais lojas de varejo no Brasil. Aceitam o pagamento em 12 vezes, com início até dois meses depois da compra, sempre anunciando, com raras exceções, que o valor é o mesmo tanto para o pagamento à vista como em “suaves” prestações. Evidentemente, não pode ser. Outro exemplo marcante é o empréstimo com consignação em folha para aposentados e pensionistas, com risco zero para os Bancos, que chegam a cobrar até 5% ao mês. É uma das maiores crueldades perpetradas contra os menos favorecidos, os quais estão se endividando brutalmente, estimulados por irresponsáveis meios de comunicação, sem o menor controle por parte das autoridades econômicas.

          Mais um exemplo é o chamado Bolsa Família, que agrupou vários benefícios de caráter assistencialista, com finalidade nitidamente eleitoreira. É inclusive um obstáculo à mobilidade social, pois se o beneficiário conseguir algum rendimento adicional legal, perde a doação, abrindo caminho para uma grande quantidade de desvios e descaminhos, favorecendo a economia informal.

         É difícil combater os malignos, pois seu poder é incomensurável. Controlam os meios de comunicação, elegem representantes no Poder Executivo e no Legislativo. Influenciam até o Judiciário. Porém, o povo brasileiro merece respeito e dignidade.É chegada a hora de todas as pessoas de bem unirem-se para que, algum dia, nossa Pátria volte a ser o que já foi em tempos passados. Um Brasil soberano, em ritmo de desenvolvimento, funcionando quase a pleno emprego, com uma classe média pujante e com a contrapartida de serviços coletivos dignos.

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