OS  EFEITOS DA GLOBALIZAÇÃO

Artigo publicado em 01.03.2005 no jornal Ombro a Ombro.

 

       O processo de globalização imposto pelo sistema financeiro internacional ao mundo, através dos adeptos do denominado neoliberalismo, forma atualizada de neocolonialismo, vai provocando os efeitos maléficos, denunciados por nós há muito tempo, apesar das promessas enunciadas de benefícios crescentes, por parte dos seus adeptos. A pobreza que se alastra, o aumento frenético do desemprego, a exclusão social disseminada, a criminalidade dominando progressivamente todos os setores da atividade humana, em especial nos países menos desenvolvidos, são conseqüências inexoráveis de tal proceder. Nos casos em que a miséria absoluta tornou-se desesperadora, são realizados movimentos pontuais de perdão parcial de suas dívidas externas e declarações retóricas de dirigentes dos principais agentes da tirania financeira: FMI e Banco Mundial.

       Contudo, não se iludam com os discursos surpreendentes, até bem pouco tempo atrás, pronunciados pelos Srs. Stanley Fischer,  na época vice-diretor-gerente do FMI,  James Wolfensohn, presidente do Banco Mundial e Enrique Iglésias, presidente do B.I.D. e membro do Diálogo Interamericano. Suas respectivas preocupações com o enriquecimento brutal dos países mais desenvolvidos e de suas respectivas elites não serão transformadas em atos capazes de minorar a atual tragédia vivenciada no mundo. Os dados são estarrecedores. Nos EUA, 1% da população controla 60% da renda nacional. No Brasil, o decil superior (10% mais ricos) apropria-se de cerca de 45% do total da renda nacional. Mas, de fato, só colocaram despidos os governantes que, por exigência do próprio FMI, correm o risco de restringir até verbas sociais para pagar juros das dívidas externas e internas.  A Lei de Responsabilidade Fiscal foi implantada para garantir isto.

Os "gurus" do neoliberalismo pregam que só as fusões são capazes de assegurar o sucesso. Num mundo cada vez mais cartelizado, as principais atividades econômicas estão cada vez mais concentradas na mão de poucas empresas. E pensar que todas as empresas estatais privatizadas no Brasil, incluindo-se aí valores financiados pelo BNDES, "moedas podres" etc., foram vendidas (com o rico filão das telecomunicações) por cerca de US$ 100 bilhões. E vale tudo para não alterar as condições de geração do lucro que depois será realizado pelos empresários privados, em sua maior parte estrangeiros.

        As conseqüências inevitáveis são  fechamento de fábricas,  aumento de preços para os consumidores, imposição de "vendas casadas" e outras. Alguns colegas economistas profetizam que a indústria brasileira terá que tomar o caminho das fusões (que acabam constituindo monopólios)  para sobreviver ao avanço da globalização no atual milênio, principalmente nos setores onde o tamanho é documento, como o de bens de capital e alta tecnologia. E os efeitos são conhecidos: desnacionalização da economia, extinção do Estado Nacional Soberano, destruição do que ainda resta da indústria nacional,  pobreza, miséria, amputação de direitos adquiridos, retorno do trabalhador à condição de escravo etc.

              Com as perspectivas da abertura do setor de imprensa aos estrangeiros proximamente,  não é demais supor que  grupos estrangeiros passarão a dominar os principais veículos de comunicação, criando-se assim gigantes que terão o oligopólio da informação no país. Se hodiernamente  um destes grupos nacionais já é capaz de derrubar ou nomear ministros, imaginem no futuro, com a nova situação. É poder demais concentrado em mãos de muitos poucos. E o que fazer  no Brasil para impedir isto, supondo-se que haja vontade política para tal?  Considerando a legislação atual, nada. Nos EUA, há leis rígidas que impedem tal tipo de concentração de poder na imprensa. Ou os grupos que possuem veículos escritos não podem ter veículos de rádio e TV, ou não podem operar em escala nacional e sim regionalmente. Nunca o governo dos EUA    permitiria tal concentração de poder em um ou dois grupos. É muito risco para a forte democracia norte-americana. Lá há no mínimo três grupos poderosos, em igualdade de condições, disputando a audiência palmo a palmo. Há o respeito à divergência de opiniões. Aqui, caminhamos    para o monopólio das informações, consolidando  a "ditadura constitucional" em que vivemos.

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor aposentado  na UERJ e Conselheiro da ESG

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