OPOSIÇÃO INGÊNUA OU CONIVENTE?

Prof. Marcos Coimbra

Membro do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor aposentado de Economia na UERJ e Conselheiro da ESG.

Artigo publicado em 08.11.2007 no Monitor Mercantil

         A questão da aprovação da prorrogação da CPMF até 2011 ilustra bem o despreparo da chamada oposição para compreender o desafio enfrentado, bem como a atitude correta a adotar, com exceção do DEM e do PSOL. A atitude do PSDB, principalmente, é de estarrecer. Não bastasse o grave erro cometido, na ocasião do triste episódio do “mensalão”, quando era o momento adequado para cobrar as responsabilidades dos infratores, pugnando pela justa punição deles e pela solicitação do devido impedimento de Lula, acomodou-se, com medo da reação dos ditos “movimentos populares” ligados ao PT ou por outras razões desconhecidas, mas indefensáveis. Talvez acreditando que Lula sangraria e seria um adversário fácil de ser batido em 2006, o que não aconteceu. Agora, sua bancada no Senado, pressionada pelos dois governadores candidatos à presidência em 2010, ameaça incorrer no mesmo pecado. Não há razão técnica ou patriótica para aprovação da CPMF, nos moldes propostos. O aumento da arrecadação em 2007 supera o valor estimado de sua arrecadação. Um aperto nos gastos de governo desnecessários, incluindo-se aí a corrupção, dispensa o tributo provisório.

         O atual "espetáculo" proporcionado pelos nossos "políticos" é de estarrecer. A troca desenfreada de partidos, o esquecimento das bandeiras defendidas no passado, alianças espúrias efetivadas, o clientelismo desenfreado, o assistencialismo enganoso, o nepotismo desvairado mostram o baixo nível de cultura política existente. Ao procurarmos, por exemplo, quem está sempre no comando no Senado, identificamos os senadores Renan Calheiros e Romero Jucá. Recordamo-nos de que sempre estiveram no poder. O primeiro serviu a todos os presidentes da República, desde Fernando Collor, em postos de destaque. Chegou a ser líder do governo, ministro da Justiça de FHC e, agora, presidente do Senado. O segundo, que também foi ministro, tem suas origens políticas no período militar, destacando-se sempre pela defesa intransigente de qualquer governo, seja FHC ou Lula. São modelos de incoerência ideológica. Apenas, não por coincidência, são hoplófobos assumidos. Circula até na Internet denúncia sobre as verdadeiras razões da campanha pelo desarmamento, vinculado-a a interesses da empresa GLOCK.

         A razão verdadeira destes procedimentos está na busca de verbas, cargos e nomeações para garantir a reeleição ou posições mais prósperas. Verificamos a diminuição das bancadas do PSDB, do PMDB e do DEM e o "inchaço" das bancadas aliadas do governo, em especial do PR e do PTB, enquanto o PT procura preservar-se. Ora, os distintos chefes políticos tradicionais não estão enxergando um palmo a frente. O PT, ao ganhar a eleição para a Presidência da República, obteve o poder de nomear dezenas de milhares de integrantes de seus quadros partidários para os principais cargos de comando no país. Para os partidos aliados está oferecendo "migalhas". O PMDB, então, está engajado no apoio a todas as iniciativas petistas, altamente desgastantes, sem ter uma retribuição compatível ainda.

Nas eleições municipais de 2004 a meta do PT, era de conquistar cerca de mil prefeituras. Ainda bem que não conseguiram. Seriam mais dezenas de milhares de cargos para os seus quadros políticos. Constatando-se o poder da mídia, quase que inteiramente dependente das concessões públicas e das verbas publicitárias provenientes em especial da administração federal, encontramos um cenário preocupante. Apesar das diversas correntes que abriga, o PT adota o centralismo democrático modelo cubano e sabe impor a sua vontade aos eventuais contestadores.

Se este panorama for concretizado, com a continuação da "eleição eletrônica" nos viciados moldes atuais e com o controle da maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal nomeados por Lula, estarão criadas as condições para o surgimento de um rolo compressor capaz de propor alteração na Constituição, de modo a haver um “plebiscito”, garantindo a reeleição permanente de Lula. Ou, na hipótese mais pessimista para o PT, a eleição de um “fantoche” em 2010, mesmo do PSDB, para o retorno triunfal em 2014. Nunca mais o PT abandonará o poder, a exemplo do que está prestes a acontecer na Venezuela, com os seguidores de Chávez. Em paralelo com o crescente esvaziamento dos demais, em virtude principalmente do fisiologismo, o PT não necessitará mais do apoio de outro partido, pois será forte o suficiente para governar sozinho.

         Estarão criadas as condições para a implantação de um partido único, de fato, sectário, radical, perseguidor dos que não pensam como eles, conforme já está ocorrendo nas principais estatais brasileiras, permitindo-se a sobrevivência de alguns, apenas para afirmação da falácia de que vivemos em uma democracia, a exemplo do passado, com a Arena e o MDB. Será que os ilustres dirigentes partidários de outros partidos não estão percebendo o perigo que estão correndo? A única saída é a união de todos, em torno de um projeto democrático, para evitar a ditadura de fato, enquanto é tempo. Na realidade, como na fábula narrando a sociedade entre os porcos e as galinhas, os demais partidos  entram com o bacon, enquanto o PT fornece os ovos.

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