O PENSAMENTO ÚNICO

Artigo publicado em FEV/2001 no Vila em Foco

 Marcos Coimbra, Professor

Prof. Titular de Economia na Universidade Candido Mendes, na UERJ e Conselheiro da ESG

Os sicários da globalização procuram impingir ao mundo a crença de que ela é irreversível e os povos somente possuem uma opção: aderir a ela. Caso não o façam, ficarão a margem da História, transformando-se em párias. Contam para isto com a prestimosa colaboração de Instituições respeitadas, de acadêmicos influentes e da quase totalidade da imprensa mundial. Os neoliberais procuram impor seu ideário aos principais países do mundo, agindo por intermédio de organizações diversas, inclusive organismos internacionais como o FMI, Banco Mundial, BID e até de ONGs. Através da coordenação da Trilateral, usam associações como o Diálogo Interamericano e sua conseqüência lógica, o denominado Consenso de Washington, para criar o pensamento único na comunidade mundial.

O genial escritor Eric Blair, pseudônimo de George Orwell, escreveu várias obras magistrais. Mas, sem dúvida alguma, "1984" marcou toda uma geração. Previu o que poderia acontecer no mundo futuro, só não acertando a época precisa. Hoje, no início do terceiro milênio, os piores pesadelos dele tornaram-se realidade. O "Grande Irmão" existe e está cada vez mais presente. Governos instalam câmaras de TV para vigiar os passos da população, inclusive nas vias públicas, a pretexto de manutenção da segurança. Empregados marcam o ponto por intermédio de impressões digitais. Satélites monitoram todas as atividades de porte na superfície terrestre, sendo capazes até de identificar os movimentos de um homem. No melhor estilo de Gramsci, todos os centros de irradiação de prestígio cultural são dominados, um a um, pelos "donos do mundo", apátridas, possuidores do capital transnacional.

Erodem os valores e princípios da sociedade. Destroem as instituições basilares (Família, Igreja, Escola, Forças Armadas e outras). Assumem o controle das Universidades, transformando-as em "shopping centers". Dominam os meios de comunicação de massa (jornal, rádio, TV), impondo-lhes, de fato, um pensamento único, aquele imposto pelo "globoritarismo"( totalitarismo da globalização). Em nome da liberdade de imprensa, praticam a mais acirrada das censuras, impedindo o acesso à chamada grande imprensa dos que não comungam com suas idéias. Os que discordam somente possuem acesso à imprensa alternativa. E, mesmo assim, são eliminados quando começam a incomodar. Ou economicamente, ou moralmente, ou judicialmente. Logo, são rotulados por qualificações esdrúxulas, como, por exemplo, nazi-fascistas para serem discriminados. Agora mesmo, no Brasil, a seção brasileira da WWF, presidida pelo empresário Sr. José Roberto Marinho, usou a Justiça para anular o MSIA (Movimento de Solidariedade Ibero-Americana), através de ação na 24ª Vara Cível, que culminou com uma diligência de busca e apreensão de publicações no escritório do MSIA no RJ. No fulcro da questão está a suspensão da construção da hidrovia Paraná-Paraguai, canal de escoamento de produção agrícola do centro da América do Sul, por decisão do ministro dos Transportes. A WWF fez campanha contra o projeto da hidrovia, alegando que haveria impacto desfavorável para a fauna, a vegetação e a população do pantanal mato-grossense. O MSIA defende o desenvolvimento.

Todos sabem, mas poucos dizem, que os meios de comunicação no Brasil são dominados por cerca de seis famílias. E, ao contrário de outros países, como, por exemplo, os EUA, onde o grupo, possuidor de TV, não pode ter rádio e jornal, ao mesmo tempo, e vice-versa, ou então operam em cadeia regional, para permitir a livre concorrência, aqui uma única rede tem o controle de mais de 60% da audiência. E as relações com o poder econômico e as autoridades públicas, são incestuosas, seja a nível de direção, seja a nível intermediário. Os meios de comunicação precisam de verbas de publicidade, de anúncios das empresas e da propaganda oficial para sobreviverem.

Na esfera intermediária, de um modo geral, os editores, colunistas e jornalistas ganham pouco, mas possuem um elevado padrão de vida. Assim, são vulneráveis a convites para ocupar cargos de assessoria de relações públicas, formal ou informalmente. Até empresas de publicidade são usadas como "biombo" para essas consultorias altamente rentáveis. Isto sem considerar o engajamento político partidário notório de vários articulistas. Desta forma, fica difícil esperar imparcialidade do chamado quarto poder, o da imprensa, em especial da mídia amestrada, assim denominada em virtude de estar cooptada pelos "donos do mundo" e pelos governos, em todos os níveis.

É preciso lutar, em todos os campos, especialmente no espaço democrático propiciado por jornais como o Monitor Mercantil para reverter esta funesta situação!

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