“O Colapso mundial e o Brasil” – II

(Artigo publicado em 07.05.2009 para o MM).

 

Em prosseguimento ao artigo publicado na semana anterior, nas demais Expressões do Poder Nacional identificamos:

1 – Deterioração das Instituições Nacionais;

2 - Executivo aparelhado partidariamente, com a máquina empenhada em alcançar a perpetuação no Poder em 2010. Não há um Projeto Nacional de Desenvolvimento, mas sim um projeto de poder;

3 - Legislativo inteiramente cooptado, incapaz de exercer suas funções, sem perspectiva de reversão do quadro ( medidas provisórias);

4 - Judiciário acuado com a criação do Conselho Nacional de Justiça, com conflitos permanentes entre seus diversos segmentos e até no STF;

5 - Corrupção endêmica alcançando praticamente todos os segmentos;

6 - Ausência de um candidato de oposição verdadeira aos ditames do Foro de São Paulo;

7- Política externa lesiva aos interesses nacionais, incapaz de defender os Objetivos Nacionais Permanentes, refém da tendência de criação da URSAL no continente;

8 – Saúde pública sem integração das três esferas de administração, com superposição de funções, incapaz de atender às necessidades do povo e com privatização crescente, porém ineficaz e com altos custos;

9 – Falência na educação pública, incapaz de formação do capital humano necessário para enfrentar os desafios indispensáveis ao aproveitamento de eventuais oportunidades propiciadas pela crise mundial;

10 – Segurança pública caótica, com criação do embrião de uma “guarda nacional”, sem a necessária articulação entre os inúmeros segmentos que deveriam prover as carências existentes;

11- Falta de controle sobre a atuação das diversas ONGs, especialmente estrangeiras, disseminadas pelo país, que substituem progressivamente a ação do Estado;

12- Ameaça de “balcanização” do país, com a criação de “quistos indígenas” e adoção de medidas racialistas, promotoras da desintegração da coesão social ainda existente;

13- Enfraquecimento deliberado das Forças Armadas, em especial nos últimos 15 anos, com evidente prejuízo do cumprimento de suas funções constitucionais;

14- Imposição de uma Estratégia Nacional de Defesa, sem a existência anterior de uma Política de Segurança Nacional e a devida oitiva dos profissionais da área;

15- Insuficiente aporte de investimentos em pesquisa pura e/ou aplicada, tornando o país cada vez mais dependente da tecnologia externa;

16- Meios de comunicação altamente comprometidos com a prática  gramscista” de tentativa de estabelecimento do pensamento único e dependentes das verbas de publicidade de órgãos governamentais;

17 – Acomodação das forças vivas da Nação, caracterizando um grave processo de anomia.

Como sugestões para enfrentar os desafios apresentados, apontamos a necessidade de adoção das seguintes ações:

1 – Política monetária: principal responsabilidade de conduzir o esforço anticíclico, com redução de juros, liberação de parte expressiva dos compulsórios e administração de níveis de liquidez, em reais e divisas;

2 – Política fiscal: apoio à rede de proteção social e realização de vitais investimentos públicos, em especial na infra-estrutura econômico-social ;

3 – Políticas diversas: recolocar a operação de mercado nos trilhos, regulando-o adequadamente; repensar o papel do Estado, com diminuição de gastos excessivos em custeio e maior destinação de recursos destinados à atividade produtiva. Ele deve ser eficiente e eficaz. Nem mínimo, nem máximo. O mais importante é a elaboração de um Plano Nacional de Desenvolvimento, contendo políticas e estratégias bem definidas, vinculadas a prazos, orçamentos e órgãos responsáveis, com cuidadosa implementação por técnicos competentes.

Nossas conclusões são:

a – O país, bem posicionado inicialmente, não escapará de uma deterioração lenta e progressiva, importada dos demais e principalmente devido a falta de ação adequada das autoridades, no momento correto ;

b – A taxa de crescimento do PIB neste ano será próxima de zero.

O Brasil não é uma “ilha da fantasia”. Em tese, é possível pensar um modelo de desenvolvimento econômico baseado em um mercado doméstico cuja distribuição de renda é razoável. Mas não é o nosso caso, pois ao estimular o crescimento do mercado interno, o governo tem usado crédito e assistência social, o que aumenta a renda disponível dos mais pobres, sem que a distribuição de renda seja de fato alterada. Os canais de crédito popular, na medida em que a metástase da crise global vai avançando, definham com a queda na renda ou o medo de ficar sem emprego.

         Para agravar, o país tornou-se exportador sem gerar uma capacidade de inovação e modernização de sua infra-estrutura, sendo dependente de mercados externos cujo colapso é irreversível em um prazo de 2 a 5 anos.

 

Prof. Marcos Coimbra

Conselheiro Diretor do CEBRES, Professor de Economia e Autor do livro Brasil Soberano.