O BRASIL E SEU PATRIMÔNIO

Artigo publicado em 28.11.2001 no Monitor Mercantil

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia na Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG

                   Atravessamos um dos momentos mais perigosos de nossa História. Os recentes acontecimentos mundiais demonstram com clareza que a potência hegemônica não se deterá diante de qualquer obstáculo para obter seus objetivos nacionais. Mais um país, o Afeganistão, está sendo destruído, sem que, até o momento tenha sido provada a responsabilidade de Bin Laden e seus seguidores no trágico atentado de 11 de setembro. Os meios de comunicação do mundo inteiro estão a mercê dos informes passados pelo crivo das Forças Armadas dos EUA. Já está sendo anunciada até uma lista de outros países a serem arrasados, a começar pelo inimigo tradicional, o Iraque. Convém lembrar que os EUA recusaram-se a assinar todos os tratados internacionais envolvendo o controle de armas químicas e biológicas, da proibição de minas terrestres e outros. E é sob o pretexto da posse desse tipo de armamento que o Iraque deverá ser varrido do mapa. Ao observador imparcial, ressalta a necessidade de observar os territórios estratégicos  que poderão ser objeto de ações futuras, em função de sua dimensão, importância, localização e posse de riquezas. Sem dúvida, O Brasil é um deles. E sabemos que não contamos com qualquer auxílio internacional. Vamos ter que defender-nos com nossos próprios meios.

                   O Brasil possui todas as condições de ser a potência do terceiro milênio. Um território de mais de 8.500.000 km2, vastos recursos naturais, inclusive o ouro branco, a água, bem escasso, que provocará conflitos bélicos por sua posse proximamente, em paralelo  a vastas riquezas minerais e florestas imensas. Tem um povo trabalhador, honesto e corajoso. Seu destino natural é este. Contudo, é necessário que seja razoavelmente administrado, por pessoas de bem, possuidoras de patriotismo, honestos, com um projeto nacional de desenvolvimento, contendo políticas e estratégias correlatas, ao longo do tempo.

                   Continuamos nossa missão, a de clamarmos, em defesa daquilo que ainda é nosso. De nossa cultura, de nossos valores, de nossos ideais, de nossas crenças, de nossos princípios, de nossas riquezas legadas por nossos maiores. De fato, não podemos e não devemos envergonhar nossos antepassados. Vamos esquecer eventuais divergências, colocar para longe efêmeras vaidades e lutar para que o nosso país continue íntegro, sem perder aquilo que tem. Unirmo-nos enquanto é tempo, pois mais importante do que a arma utilizada pelo guerreiro é aquilo que ele sente no seu coração e o que pensa com sua mente. Corações e mentes valem mais do que a tecnologia bélica empregada. A solução para nossos problemas, este enfocado em particular, passa pela recuperação da auto-estima nacional, pela volta dos sonhos legítimos de sermos uma grande potência, com nossos irmãos tendo direito a uma vida digna. Não queremos nada que não seja nosso. Exigimos apenas aquilo que já é nosso por gerações.

                   Nossos recursos naturais abundantes, a capacidade de trabalho do povo brasileiro, a habilidade de empreender característica de nossos empresários, a base econômica instalada, a tecnologia gerada por nossa criativa gente assustam as potências mundiais atuais. Por isto, eles não querem permitir nosso desenvolvimento. Vão procurar impedir-nos, de todos os modos, que alcancemos nossos objetivos. Os meios desleais utilizados são sobejamente conhecidos. Tentam manipular o psicossocial, atingindo nossos princípios e valores morais e éticos, através dos centros de irradiação de prestígio cultural (Meios de comunicação de massa, Universidades, Escolas, Teatro, Cinema). Tudo é utilizado pelo Sistema Financeiro Internacional, pela Trilateral, pelos detentores do poder econômico, para, inclusive, ridicularizar nossa fé. Militarmente, impedem que sequer tenhamos condições de defesa do nosso patrimônio. As Forças Armadas transformaram-se em Forças Desarmadas. Politicamente, elegem seus representantes como nossos dirigentes. Denegrir o Poder Judiciário é tarefa diária.

                   Economicamente, submetem a Nação às regras do Sistema Financeiro Internacional, por intermédio de seus agentes externos (FMI, Banco Mundial, BID, OMC, Diálogo Interamericano, cujo ideário foi  operacionalizado no denominado Consenso de Washington) e internos (autoridades em postos de relevância formados no exterior com empregos  garantidos quando saírem do governo). Tentam eliminar a capacidade de crescimento econômico e posterior desenvolvimento não só econômico como nacional, por meio da desnacionalização da nossa economia ou de sua eliminação (em especial, o segmento industrial), da subtração de nossas riquezas (através do contrabando ou da compra a preços vis) e, principalmente, empregando a privatização selvagem.

                   Deste modo é fundamental que o setor público mantenha sob seu controle empresas como a PETROBRAS, o Banco do Brasil e setores como o energético , água e saneamento, dentre outros, classificados no mundo inteiro como estratégicos. A venda da Vale do Rio Doce, por exemplo, abriu ao Resto do Mundo a perspectiva de explorar recursos da ordem de 1 trilhão de dólares, além de possibilitar a entrega de áreas de servidão na Amazônia, de propriedade da Vale, que poderão funcionar como "quistos territoriais", embriões da expansão de estrangeiros na região mais rica do mundo, caracterizada por "vazios demográficos", já contaminada por inúmeras missões de geólogos alienígenas, por reservas indígenas delimitadas por influência de "ONGS" estrangeiras e por vastas extensões territoriais já compradas por estrangeiros. A  propósito, é imperioso recordar que, com relação à Vale, ainda existe uma ação no Supremo Tribunal Federal , cuja liminar contrária à venda foi deferida pelo Ministro Néri da Silveira, que ainda não teve seu mérito julgado, pois recebeu pedido de vista do Ministro Nelson Jobim, nomeado por FHC, e ex-ministro da Justiça da sua administração.

                   Será que isto não é o bastante para despertar  a indignação do povo e motivar o início de uma campanha de âmbito nacional para evitar a perda de nosso patrimônio e lutarmos, ombro a ombro, para preservar o futuro de nossos descendentes? Afinal, eles não nos perdoarão, caso não saibamos cumprir nosso dever.

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