O APAGÃO  É  MORAL!

Artigo publicado no jornal VILA EM FOCO em junho de 2001

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular  de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ  e Conselheiro da ESG

                   A administração FHC anunciou, no dia 18 do corrente, seu "plano" destinado a tentar evitar o chamado "apagão", representado pela interrupção do fornecimento de energia, indiscriminadamente, nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. É de estarrecer a falta de vergonha das "autoridades", principais responsáveis pela caótica situação vivenciada pela já sofrida população brasileira. Inicialmente optaram por colocar a culpa em São Pedro e eximir-se de qualquer responsabilidade. Agora, perceberam que é inútil procurar continuar a enganar o povo e assumiram descaradamente parte da irresponsabilidade cometida. O grupo constituído pela administração FHC está sendo presidido pelo ex-funcionário do FMI, Sr. Pedro Parente. Ora, qualquer cidadão razoavelmente informado sabe que sobra energia, no momento, no Sul e no Norte, que o terceiro "linhão" de Itaipu ainda não foi construído por descaso das autoridades (ir)responsáveis pelo setor. Afinal, o ex-diretor do Banco Mundial, Sr. Pedro Malan, candidato real do sistema à presidência da República em 2002, foi o (ir)responsável que proibiu o investimento na geração e transmissão de energia, nestes mais de seis anos, o qual deveria ter sido concretizado na época certa, justamente para evitar mais esta tortura imposta à população brasileira, em função do acordo firmado com o FMI, pois este órgão considera o investimento, mesmo em infra-estrutura,  com financiamento público como componente do déficit. 

                   Agora o "plano" é imposto goela abaixo do povo, com características do mais puro requinte de sadismo, atingindo em especial a classe média, alvo predileto sempre.  Eles são os culpados, mas quem vai cumprir a pena é o cidadão, honesto, digno e de bons costumes, que paga suas contas, inclusive a de energia, em dia. E eles próprios é que estipulam as penalidades. De início, o limite inferior de 100 kwh é ridículo, pois representa um consumo mínimo de sobrevivência. E o autoritarismo dos tecnoburocratas de plantão, que continuam a permanecer no ar condicionado com temperatura de 19 graus centígrados, a exemplo de Washington, ganhando o provento oficial e mais estipêndios de origem, como por exemplo o denunciado pelo ex-ministro Fernando Bezerra, no tocante a assalariados da CNI (Confederação Nacional da Indústria) , os quais ocupam ainda altos cargos na administração pública, e de outros órgãos, é inimaginável. Além da cobrança de multas extorsivas, a partir de 200 kwh, ainda acenam com a ameaça de corte de energia por três dias, seis dias... Quem vai calcular? Quem vai ficar com o excedente arrecadado? E os investimentos em geração e transmissão para evitar a continuação da vergonha? E os "gatos" utilizados até por grandes empresas? Daqui a pouco, vão querer punir os consumidores, que acreditaram que viviam num país decente, com planejamento, administrado por pessoas sérias,  com privação da liberdade ou com chibatadas. Acreditamos que tais medidas, se adotadas, provocarão uma avalanche de recursos à Justiça. Será que tudo isto é a preparação da "dolarização" das tarifas de energia, tão desejadas pelas empresas estrangeiras interessadas em explorar o mercado brasileiro, a exemplo da AES, e inicialmente repelidas pelas autoridades? Afinal, a paternidade principal do "plano" é atribuída ao "genro" de FHC, o mesmo que decretou ; " O petróleo é vosso!". O medo da administração FHC é o de ter que impor o "apagão", em virtude das conseqüências eleitorais nas próximas eleições. Mas o dano já é irreversível. Até a velhinha de Taubaté está ciente da prevaricação praticada pelos corsários que estão no poder. O governador do Rio de Janeiro até cunhou outra expressão curiosa: Fernandinho Beira-Lago, a exemplo do Fernandinho Beira-Mar. A quem será que ele está se referindo? Antes ele já havia criado outra expressão curiosa : o partido da "boquinha". Quem protestou, na ocasião, foram representantes do PT (Partido dos Trabalhadores).

                   Afinal, os nossos antecessores construíram uma  boa base econômica, dotada de infra-estrutura, até o final da década de 70. Na década seguinte, começou o retrocesso, agravado nos anos 90. Praticamente toda nossa base está erodida. Os setores  de energia, transportes e  comunicações foram ou estão sendo entregues a empresas estrangeiras, inclusive algumas estatais. Na energia, que nos EUA continua em poder do Estado, até com a supervisão do exército americano, com exceção da Califórnia, exemplo a não ser seguido, intenta-se cometer mais um crime, com a entrega de Furnas, CHESF e Eletronorte aos alienígenas. Querem esquartejar Furnas em duas empresas de geração e uma de transmissão, a qual ficaria ainda em poder do setor público. Segundo o Prof. Joaquim Francisco de Carvalho, seu lucro líquido foi de R$ 600 milhões em 2000. Com uma potência instalada de 9.100 MW,  Furnas é uma das maiores geradoras de eletricidade da América Latina, sendo responsável pelo fornecimento de eletricidade a 55% dos consumidores brasileiros, numa  parte das regiões Sudeste e Centro-Oeste, de onde são originários 66% do PIB do Brasil. Por outro lado, a racionalização obriga que se centralize, sob controle público, a exploração de sistemas hidrelétricos, pois são múltiplos os usos das bacias hidrográficas. Um governo responsável  não pode permitir que a operação de usinas elétricas, objetivando lucros a curto prazo, comprometa o abastecimento de água para as cidades e para a irrigação, ou o uso de rios para a navegação interior.

                   A administração governa para  5%  dos brasileiros. A impopularidade do presidente ultrapassa a marca de 66 % da população. Estamos retornando ao passado, à época das trevas. Talvez o símbolo  da administração FHC, ao invés do bordão de JK(50 anos em 5), seja o oposto, "8 anos em 80". E pensar que, em países mais desenvolvidos, os tributos são cobrados em função do consumo de energia, pois, é óbvio, quanto maior o consumo, maior o grau de desenvolvimento.

                   Resta saber até quando o paciente povo brasileiro agüentará este festival de incapacidade, fracasso, irresponsabilidade, entreguismo e corrupção da atual administração. Afinal, de acordo com a Constituição, prevaricação é crime. E os (ir)responsáveis deverão ser punidos com os rigores da lei.

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