NECESSIDADE DO CONTRADITÓRIO

Prof. Marcos Coimbra

Membro do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor aposentado de Economia na UERJ e Conselheiro da ESG.

Correio eletrônico: mcoimbra@antares.com.br

Sírtio: www.brasilsoberano.com.br (Artigo publicado em 26/07 no MM).

 

Qualquer estudante reconhece a importância do contraditório. A ninguém é lícito, moral e ético julgar alguém ou algo sem ouvir os dois ou mais lados envolvidos. Isto porque haverá sempre três verdades: a do acusador, a do acusado e a verdade verdadeira. Ouvindo-se os dois lados, percebe-se o campo do consenso e o intervalo do dissenso, sendo assim bem mais fácil pesar a argumentação de um e de outro, procurar a conciliação com base nas idéias comuns e julgar a força das ponderações dos contendores, no relativo a pensamentos díspares. Pelo menos é desta forma que deve ser nos regimes ditos democráticos. Nos regimes totalitários, é evidente que isto não existe. Funciona apenas a "verdade" dos detentores do poder político. Não há espaço para outros pensamentos. Infelizmente, é isto que estão pretendendo impor ao mundo e, em especial, ao Brasil.              

         Os sicários da globalização de um lado, a exemplo dos totalitários do outro com outras intenções, procuram impingir ao mundo a crença de que ela é irreversível e os povos somente possuem uma opção: aderir a ela. Caso não o façam, ficarão a margem da História, transformando-se em párias. Contam para isto com  a prestimosa colaboração de Instituições respeitadas, de acadêmicos influentes e da quase totalidade da imprensa mundial. Os neoliberais procuram impor seu ideário aos principais países do mundo, agindo por intermédio de organizações diversas, inclusive organismos internacionais como o FMI, Banco Mundial, BID e até de ONGs. Através da coordenação da Trilateral, usam associações como o Diálogo Interamericano e sua conseqüência lógica, o denominado Consenso de Washington, para criar o pensamento único na comunidade mundial.

         O genial escritor Eric Blair, pseudônimo de George Orwell, escreveu várias obras magistrais. Mas, sem dúvida alguma, "1984" marcou toda uma geração. Previu o que poderia acontecer no mundo futuro, só não acertando a época precisa. Hoje, no início do terceiro milênio, os piores pesadelos dele tornaram-se realidade. O "Grande Irmão" existe e está cada vez mais presente. Governos instalam câmaras de TV para vigiar os passos da população, inclusive nas vias públicas, a pretexto de manutenção da segurança. Empregados marcam o ponto por intermédio de impressões digitais. Satélites monitoram todas as atividades de porte na superfície terrestre, sendo capazes até de identificar os movimentos de um homem. No melhor estilo de Gramsci, todos os centros de irradiação de prestígio cultural são dominados, um a um, pelos "donos do mundo", apátridas, possuidores do capital transnacional, ou então por regimes totalitários de esquerda, verdadeiras ditaduras civis.

         Erodem os valores e princípios da sociedade. Destroem as instituições basilares (Família, Igreja, Escola, Forças Armadas e outras). Assumem o controle das Universidades, transformando-as em "shopping centers". Dominam os meios de comunicação de massa (jornal, rádio, TV), impondo-lhes, de fato, um pensamento único. Em nome da liberdade de imprensa, praticam a mais acirrada das censuras, impedindo o acesso à chamada grande imprensa dos que não comungam com suas idéias. Os que discordam somente possuem acesso à imprensa alternativa. E, mesmo assim, são eliminados quando começam a incomodar. Ou economicamente, ou moralmente, ou judicialmente. Logo, são rotulados por qualificações esdrúxulas, como, por exemplo, nazi-fascistas ou homofóbicos, para poderem ser perseguidos.    Todos sabem, mas poucos dizem, que os meios de comunicação no Brasil são dominados por cerca de seis famílias. E, ao contrário de outros países, como, por exemplo, os EUA, onde o grupo, possuidor de TV, não pode ter rádio e jornal, ao mesmo tempo, e vice-versa,  ou então operam em cadeia regional, para permitir a livre concorrência, aqui uma única rede tem o controle de mais de 60% da audiência. E as relações com o poder econômico e as autoridades públicas, são incestuosas, seja no nível de direção, seja no nível intermediário. Os meios de comunicação precisam de verbas de publicidade, de anúncios das empresas e da propaganda oficial para sobreviverem.

         Na esfera intermediária, de um modo geral, os editores, colunistas e jornalistas ganham pouco, mas possuem um elevado padrão de vida. Assim, são vulneráveis a convites para ocupar cargos de assessoria de relações públicas, formal ou informalmente. Até empresas de publicidade são usadas como "biombo" para essas consultorias altamente rentáveis. Isto sem considerar o engajamento político partidário notório de vários articulistas. Desta forma, fica difícil esperar imparcialidade do chamado quarto poder, o da imprensa, em especial da mídia amestrada, assim denominada em virtude de estar cooptada pelos "donos do mundo" e pelos governos, em todos os níveis.

         Em nosso país, presenciamos as duas atuações. Por um lado,  neoliberais, a soldo de capitais transnacionais,  que conseguiram ocupar praticamente todo o espaço intelectual existente. Do outro, mas às vezes com interesses comuns, os adeptos de um marxismo mitigado, os quais pretendem até impor meios de comunicação públicos  a serviço da ideologia totalitária.

         É preciso lutar, em todos os campos, especialmente no espaço  democrático da imprensa isenta, para reverter esta funesta situação!