NA CONTRAMÃO DO BOM SENSO

Artigo publicado em 01.08.2004 no jornal Ombro a Ombro.

 

       O brasileiro sempre foi um otimista. E tem razões para assim ser. O país é detentor de um território continental, possuidor de incomensuráveis recursos naturais e vastas riquezas, com um povo trabalhador, digno, bom e temente a Deus. Em longo prazo, é difícil não dar certo. Porém, no curto prazo, nossa geração deve lutar para que a tarefa dos nossos descendentes seja menos penosa. E isto não está ocorrendo, infelizmente. A conjuntura nacional é das mais adversas de toda nossa História. Altas autoridades, ao invés de pugnar pela concretização dos Objetivos Nacionais Permanentes, perdem-se em questões menores, dissociadas dos elevados anseios nacionais.

       No Executivo, inexiste um projeto de governo, mas sim um projeto de poder. A falta de autoridade, a incompetência administrativa e o aparelhamento partidário da administração federal desautorizam qualquer prognóstico otimista. A leve recuperação da Economia, visualizada agora, em seu início, não é sustentável por muito tempo, além de extremamente modesta. É explicada pela comparação com uma base temporal fraca, pelo avanço das exportações, do agronegócio e pela progressiva utilização da capacidade ociosa existente. Não apresenta condições de sustentação nem pelo lado da oferta, devido ao baixo nível de investimentos, nem pela ótica da demanda, em função da elevada taxa de desemprego existente, além da estagnação  da massa salarial real. Apenas as 10.000 pessoas mais ricas do Brasil possuem condições de consumir muito e isto pode aquecer a produção de alguns setores, como o de duráveis de consumo, porém é insuficiente para garantir o crescimento sustentado. Mesmo a facilidade de crédito proporcionada por algumas cadeias de revendedoras de duráveis é incapaz de propiciar uma melhor expectativa de melhora.

       O Legislativo transformou-se em mais um órgão da administração central, limitando-se a homologar as ordens emanadas do Executivo. Der vez em quando, há um arremedo de resistência, talvez para valorizar a barganha política, nas negociações empreendidas, mas o resultado é previsível. Até as atribuições características do Legislativo são usurpadas pelo Executivo, através das famigeradas medidas provisórias. As CPIs, que poderiam coibir os excessos de corrupção flagrados, foram anuladas por manobras das Mesas Diretora do Congresso, mais interessadas em garantir a possibilidade de reeleição.

       No Judiciário, quem comanda é o Supremo Tribunal Federal (STF), e o seu novo presidente já mostrou o seu cartão de visita. Em menos de dez dias sinalizou seu padrão de comportamento. Mandou libertar o Sombra, proibiu a quebra do sigilo bancário do MST, autorizada pelo Legislativo, e defendeu a tese da manutenção do crime inafiançável para o possuidor de arma de fogo não declarada em sua residência, justificando com o argumento de que os brasileiros não estão preparados para usar armas de fogo. É de estarrecer!

       O bravo povo brasileiro não merece tanto! Os dois próximos anos deverão ser terríveis, devido à conjugação de antagonismos presentes nos cenários vislumbrados.

Temos que lutar sem esmorecer, todos os segundos, de todos os minutos, de todas as horas, de todos os dias, objetivando fortalecer as Instituições Nacionais (Família, Igreja, Forças Armadas e outras) para procurar sobreviver, revertendo o quadro adverso delineado, a fim de que possamos resistir aos esforços do universo antagônico para impedir o Brasil de atingir seus Objetivos Nacionais Permanentes. O país não sofre com terremotos, vulcões, desastres naturais, mas em compensação nossa elite é esta, em grande parte por nossa responsabilidade.

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor aposentado  na UERJ e Conselheiro da ESG.

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