MASSACRE EM MARCHA

 

Artigo publicado em 23.01.03 no Monitor Mercantil

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG.

 

       Nenhum ser humano pode ficar indiferente, em especial nos dias de hoje, ao processo em curso, empreendido pela atual administração dos EUA, no sentido de destruir o Iraque, assassinar o ditador Sadam Hussein, a pretexto de que possuam armas de destruição de massa, mas objetivando, na realidade, obter o controle do petróleo do Oriente Médio. Na guerra efetuada pelo Bush pai havia um motivo razoável, tanto do ponto de vista ético como moral. A invasão e ocupação do Kuwait. A força multinacional levou o invasor a retroceder, libertando o país ocupado, a um custo muito elevado para a população civil iraquiana.

       Mas, agora, o Iraque está imobilizado, com duas zonas de exclusão aérea determinadas, ao arrepio de qualquer direito, pelos EUA e seus aliados, sendo bombardeado todos os dias, com suas exportações e importações controladas rigidamente, sofrendo carência de medicamentos básicos, o que provoca a morte de milhares de crianças e idosos, todos os anos. Fica difícil imaginar que, de fato, possui armas de destruição de tal porte, bem como condições de utilizá-las e vontade para tal. Afinal, Hussein sabe que seu país será pulverizado, inclusive com o emprego de artefatos nucleares, caso tente qualquer aventura.

       Na realidade, o correto seria esperar o relatório conclusivo da equipe de inspetores da ONU com seu parecer. Para isto eles estão lá, sob a égide da ONU, com centenas de membros, vasculhando todo o território iraquiano, sem restrições. Se nada de significativo for encontrado, não é justificável uma ação militar destinada a varrer o Iraque do mapa, como nação soberana. O pretexto de que é um ditador, não é válido na região, pois existem vários deles apoiados pelos EUA. Aliás, o próprio Sadam foi fruto das necessidades geopolíticas dos EUA, sendo preparado e abastecido por eles, para funcionar como instrumento de contenção do Irã.

       Notícias veiculadas pela imprensa internacional informaram que já estão em território iraquiano centenas de comandos e agentes da CIA, com a missão de assassinar Hussein. Convenhamos que, moral e eticamente, por mais monstruoso que seja o ditador, tal tipo de ação fere o sentimento cristão e a legislação internacional. Desta forma, estarão se nivelando a quem condenam.

       É importante que todos os instrumentos políticos e diplomáticos sejam esgotados, antes de qualquer iniciativa bélica. Uma ação individual da administração Bush, sem o aval da ONU é inadmissível, sob todos os aspectos, principalmente pelo precedente criado.

       De fato, os EUA estão numa posição delicada, pois, de início, possuem mais armas de destruição do que qualquer outro país, ao mesmo tempo em que querem impedir o acesso a elas dos outros países. Em paralelo, apesar de terem assinado tratados, comprometendo-se a não utilizar, por exemplo, armas nucleares ou biológicas, empregaram, tanto na Iugoslávia, como no próprio Iraque, munição enriquecida com componentes radioativos, causadores de enfermidades fatais, como o câncer, atingindo indiscriminadamente militares como civis e até soldados aliados. E ainda deixam claro que estão dispostos a usar artefatos nucleares em um conflito contra o Iraque.

       As conseqüências de uma guerra no Oriente Médio serão terríveis para a economia internacional e para todos os países do mundo, com exceção dos EUA, que terão sua economia aquecida e passarão a ter o controle do petróleo do Oriente Médio. Isto sem falar na perda inútil de milhares de seres humanos, de ambos os lados.O desejo de vingança vai aumentar, por parte de extremistas, provocando uma série de atentados, impossíveis de evitar, ocasionando a morte de inúmeras pessoas inocentes. E abre um precedente perigoso. Hoje, o Iraque. Amanhã, poderá ser a vez de qualquer um, inclusive do Brasil, para conquistar nossos vastos recursos naturais, como a água doce, a pretexto da proteção ao meio ambiente ou da defesa de grupos indígenas.

       É o momento de todos agirem, demonstrando claramente seu repúdio a ações violentas e terroristas, venham de onde vier, em nome da civilização mundial.