LIMITE ULTRAPASSADO

Prof. Marcos Coimbra

Membro do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor aposentado de Economia na UERJ e Conselheiro da ESG.

Artigo publicado em 07.06.2007 no MM

         Existem limites naturais para todas as atividades humanas. Em momentos excepcionais, eles podem ser quebrados, durante algum tempo, em um esforço sobre-humano de superação, o qual, contudo, não pode ultrapassar certo tempo, sob risco de colapso. Em nosso país, entretanto, em alguns itens, como a incompetência, a covardia, o cinismo, a irresponsabilidade, a subserviência, a corrupção, o desprezo pelo povo e pela Pátria e outros, parece que a capacidade de nossos dirigentes é infinita. Barreiras são superadas diariamente em um processo frenético e autofágico que parece não ter fim. A cada dia um limite inimaginável é quebrado e logo ultrapassado.

         No âmbito externo, apesar de alguns acertos na condução de nossa política em relação do resto do mundo, assistimos, com perplexidade, de início a inacreditável passividade da administração Lula com relação aos atos do governo boliviano, em especial no tocante à PETROBRAS. Em política externa, não há amigos e sim interesses. Quando uma nação aceita algo esdrúxulo de outra, sem reação adequada, outras agressões virão até um ponto insuportável. E foi o que aconteceu. Exigências descabidas sobre o valor, a propriedade e outras, abrangendo do gás natural até as refinarias. Por coincidência, passarão a ser operadas na Bolívia pela PDVSA venezuelana. Depois, foi o Paraguai querendo também rasgar contratos em vigor, em relação à Usina de Itaipu. Ora, ela poderia ter sido construída apenas em território brasileiro e seu investimento, quase que na totalidade. foi de responsabilidade do Brasil. Agora, o presidente Chávez investe pesadamente contra Instituições brasileiras, sem receber o troco devido.

         Sabemos das vulnerabilidades enormes do nosso Congresso, mas cabe a nós, brasileiros, denunciá-las e tentar a obtenção da correção devida de rumo. O nosso Poder Legislativo funciona, em suas três esferas, com raras exceções, a reboque dos respectivos poderes executivos. Afirmar que o nosso Congresso é submisso aos interesses dos norte-americanos é o mesmo que dizer que o Executivo Federal o é. E cá entre nós, não está distante da verdade, mas um presidente de uma nação amiga não tem o direito de fazer esta assertiva. Quanto à não ingerência de Lula na Venezuela e de Chávez no Brasil, não esqueçamos que ambos apoiaram indevidamente um ao outro nas últimas eleições. Além disto, Chávez chegou a brigar com o candidato eleito no Peru, Alan Garcia, em um esforço hercúleo para eleger o candidato dele, como também imiscuiu-se nas eleições de outras nações da América do Sul.

         Apesar de seu discurso contrário aos EUA, continua vendendo seu petróleo para eles, auferindo a receita que lhe permite, por exemplo, iniciar uma corrida armamentista no continente, comprando mais de US$ 4 bilhões  em dois anos, em armamentos e munições (9 submarinos, corvetas, 24 caças SUKHOI, 150.000 fuzis de assalto, com autorização para fabricar mais por fabricação própria etc.). Para que isto? Não é para uma hipótese de guerra contra os EUA, pois em uma guerra convencional, em poucas horas, toda a armada, força aérea e principais instalações terrestres seriam destruídas pela potência hegemônica. A conclusão é de que se destina a um projeto no âmbito local. E em um momento no qual nossas Forças Armadas nunca na história deste país estiveram tão abandonadas. Estão sendo sucateadas, sabotadas, atacadas, há  pelo menos 20 anos.

         Internamente, reina o caos. O presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros, desvia o foco das graves acusações existentes contra ele para a esfera pessoal, em uma clara manobra de despiste, aceita alegremente pelos seus pares. Ora, qual a razão de  ter feito o pagamento da pensão por intermédio de um lobista de uma empreiteira em espécie e não por cheque nominal através de um advogado? Todos sabem que ele possui capacidade de pagamento de R$ 16.500,00 mensais. Mas será que a importância é paga efetivamente por ele? Comenta-se que mais da metade dos senadores e deputados foi eleita com a colaboração financeira em suas campanhas eleitorais das seis grandes empreiteiras brasileiras. É muita ingenuidade acreditar que sairá uma CPMI sobre o tema.

         No Executivo o panorama é assustador. A Usina de Tucuruí foi invadida sem qualquer dificuldade por marginais e o país ficou a mercê de seus caprichos. O Exército foi mandado para lá, mas não pôde cumprir sua missão, pois a ordem recebida era a de negociar, sob a orientação de emissários de Brasília. Não se emprega uma Força Singular desta maneira. Quando ela entra em ação é para valer. Os delinqüentes não apenas saíram livres como ainda ameaçaram destruir as linhas de transmissão. E ficou por isto mesmo. Ninguém foi, nem está preso. Porém, se fosse um cidadão comum que não efetuou o recadastramento de seu revólver 32 no inviável prazo imposto pelos hoplófobos, seria preso, teria sua arma destruída em 48 horas e poderia ser punido com até três anos de cadeia. O escândalo do dia agora é o do primeiro irmão, superado o do primeiro filho. E vai por aí afora.

         Até quando vamos assistir, impassíveis, sem nada fazer, à destruição do nosso país?

        

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