INCOERÊNCIA OU SUBMISSÃO

Prof. Marcos Coimbra

Conselheiro Diretor do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor de Economia e autor do livro Brasil Soberano.

(Artigo publicado em 20.08.09 no MM).

            A política internacional adotada pela administração de Lula é, no mínimo, esquizofrênica ou oportunista. Ao mesmo tempo em que pretende manter o Brasil na posição de interlocutor privilegiado dos EUA, funcionando como uma espécie de “garante” dos interesses da potência hegemônica na América do Sul, procura atender aos ditames do Foro de São Paulo, que possui, como uma de suas figuras primordiais,  justamente o ministro de fato de Relações Exteriores do Brasil o Sr. MAG, ou seja Marco Aurélio Garcia. O objetivo real do citado Foro é o de procurar erigir uma URSAL (União das Repúblicas Socialistas da América Latina), sob a orientação de Cuba, no lugar da antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas), dinamitada pelos EUA, com a conivência de traidores em postos de comando, tendo como símbolo a queda do muro de Berlim.

            A postura  da administração  Lula com relação à questão de Honduras é flagrantemente a favor do ex-presidente Zelaya, o qual foi deposto em função de ter ferido a Constituição daquele país, por iniciativa do Congresso hondurenho, com o aval do Judiciário daquele país. Sem dúvida, o ocorrido foi “sui generis”, pois não há em Honduras a figura do “impedimento”, existente em outros países, como o nosso. Por exemplo, o ex-presidente Collor foi impedido pelo Congresso brasileiro em função de razões muito menos graves do acontecido em Honduras e mesmo no Brasil de hoje. Desta forma, a saída lá foi a deposição pura e simples. A atitude da administração de Lula foi acompanhada por praticamente todos os outros países.

            A incoerência reside no fato de que, ao mesmo tempo em que adota esta posição no relativo a Honduras, defende no MERCOSUL  a entrada da Venezuela do Cel Chávez, o qual mostra a cada dia suas claras tendências ditatoriais, buscando adotar a posição de Bolívar, defensor da “presidência vitalícia”, bem como o ingresso de Cuba na OEA. Como justificar a posição contraditória? Como classificar os regimes cubano e venezuelano como capazes de atender às cláusulas democráticas exigidas pelos organismos internacionais, ao mesmo tempo em que se execra a nova administração hondurenha? O fato não resiste a um mínimo de lógica e honestidade ideológica. Ou condena-se todo e qualquer regime de exceção ou admite-se todos eles, independentemente de postura ideológica.

            Além disto, é notório que, na atual administração, nunca na história deste país o segmento financeiro e as empreiteiras obtiveram  tamanho lucro. Ou seja, a administração Lula atende perfeitamente aos interesses dos “donos do mundo”, tanto nacionais quanto estrangeiros. Não por acaso, justamente estes setores são os principais financiadores de campanhas eleitorais no Brasil. A próxima campanha para a presidência da República está calculada para um custo mínimo de R$ 100 milhões, considerando-se um candidato já conhecido e detentor de máquina eleitoral. Ora, qual o político brasileiro que possui e está disposto a investir tal volume de recursos próprios em uma campanha eleitoral sem a certeza de vitória? É evidente que os recursos serão provenientes dos setores anteriormente mencionados, que cobrarão no futuro o retorno do investimento aplicado. E este candidato deverá ser apoiado por muitos candidatos a governos estaduais, bem como por dezenas de candidatos ao mandato eletivo, tanto no âmbito federal como estadual. E isto demanda uma enorme quantidade de recursos monetários.

            Outro ponto a ser analisado é a persistente capitulação da administração de Lula às investidas de vizinhos próximos, não por coincidência parceiros do Foro de São Paulo. Primeiro, foi a ocupação de instalações da Petrobrás por tropas bolivianas e outras ações agressivas semelhantes cometidas contra outras empresas brasileiras. A seguir, a tentativa da administração equatoriana em não pagar dívidas a empreiteiras brasileiras e outras iniciativas do tipo. O Cel Chávez também, volta e meia, fere os interesses nacionais brasileiros, sem que haja resposta à altura das autoridades brasileiras. Até agressões ao Congresso brasileiro foram cometidas. Sabemos que o nosso Congresso não é o ideal , sendo pleno de defeitos graves, mas não admitimos que estrangeiros se intrometam em nossos assuntos internos. Sejam americanos ou venezuelanos. Agora, é o Paraguai que quer usufruir de vantagens indevidas do erro estratégico ocasionado com a construção de Itaipu, em conjunto com aquele país, quando poderia ter sido construída uma usina semelhante em território apenas brasileiro, sem necessidade  de ter sido firmado o acordo em vigor.

            Também é inadmissível o fato de, ao mesmo tempo em que condenamos com justificadas razões a instalação de bases americanas na Colômbia e a reativação da IV Frota dos EUA, não protestamos quanto às ações de Chávez com a Rússia e  Irã, não só no relativo a manobras militares, até com uma frota russa comandada por um cruzador nuclear e aviões de última geração em área venezuelana, como aos acordos nucleares em fase de conclusão e a existência de campos de treinamento de combatentes, sob a orientação de instrutores iranianos e cubanos. Isto sem falar no misterioso surgimento de moderno armamento comprado pela Venezuela da Suécia em poder das FARCs. Ora, é necessário haver equilíbrio e ponderação na nossa postura em situações deste tipo. Ou condenamos a todas elas, sejam quais forem suas origens ideológicas, ou as ignoramos. Afinal, a administração Lula é incoerente ou é submissa aos ditames do Foro de São Paulo?

            Por que, ao invés de defendermos a bandeira de que os países maiores (no caso, o Brasil) devem ajudar os países menores (Bolívia, Paraguai e outros), não tentamos proteger nossos irmãos brasileiros seriamente ameaçados de perda de todo seu patrimônio, inclusive do mais valioso, a vida, no Paraguai e na Bolívia? No primeiro, é preocupante a situação dos chamados “brasilguaios”, que lá já estão há gerações. No segundo,o governo de Morales afirmou que expulsará “à força” cerca de 20 famílias de brasileiros que vivem no povoado de San Ignácio de Velasco, no departamento de Santa Cruz. Os brasileiros são acusados de terem se assentado na cidade sem autorização e de derrubarem indiscriminadamente árvores na região. O vice-ministro de Terras do país, Alejandro Almaraz, afirmou à rádio Erbol que a remoção das famílias se dará em uma ou duas semanas. Será isto de fato procedente? Que ajuda terão nossos irmãos brasileiros?

            Também recentemente “aviões da Força Aérea Boliviana aterrissaram no aeroporto de Pando, transportando centenas de “cocaleros“que ocuparão lotes de terra na fronteira do Acre. O projeto de reforma agrária de Morales prevê o assentamento de quatro mil plantadores de coca nas áreas de fronteira, ocupando, inicialmente, cem mil hectares. Morales afirma que seu projeto de assentamento visa a manutenção da soberania ameaçada pelos brasileiros, assumindo uma clara  postura de quem não ficou satisfeito com a solução relativa às questões das refinarias da Petrobrás e de quem contesta o Tratado de Petrópolis, que finalizou à Questão Acreana. Numa operação militar, brasileiros estão sendo expulsos e os plantadores de coca ocupam, de imediato, terras que pertenciam a agricultores brasileiros, inclusive com a interferência truculenta da Organização Internacional para Migrações (OIM), órgão da ONU, que recebeu US$ 10 milhões do Brasil para custear o deslocamento das famílias brasileiras e não está ressarcindo-as”.

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