O EFEITO ORLOFF

Prof. Marcos Coimbra

Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e da Academia Nacional de Economia e Autor do livro Brasil Soberano.

(Artigo publicado em: 29.11.12 -MM)

Partindo de um comercial bastante divulgado no Brasil: “Eu sou você amanhã”, foi difundida a máxima de que “A Argentina é o Brasil amanhã”. Infelizmente, de fato isto tem sido comprovado na prática. E a atual situação da grande Nação irmã causa muita apreensão.

Nos aspectos econômicos, os dados são contundentes. Enquanto os órgãos oficiais apontam para uma taxa de inflação de cerca de 10%, economistas respeitados e instituições independentes estimam algo acima de 25%. Uma fragata da Marinha de Guerra argentina está apreendida na África e um juiz dos EUA condenou o governo argentino a pagar US$ 1,3 bilhão a credores que não receberam em 2001 e não aceitaram renegociar a dívida. Os exportadores agrícolas são taxados em 35%. O Banco Central argentino foi forçado pela presidente a repassar recursos para o Tesouro, transformando instrumentos de proteção à moeda em meios de financiamento de gastos públicos. Estes crescem mais do que as receitas. Existem várias restrições à aquisição de moeda estrangeira e o PIB possui uma previsão de modesto crescimento, em torno de 1%.

Nas expressões política e psicossocial, a situação é ainda mais conturbada. Em paralelo a um movimento de tentativa de alterar a Constituição de modo a permitir a reeleição da presidente, cresce a rejeição do povo argentino ao seu desempenho. Passeatas espocam em todo o país, levando multidões compostas por milhões de pessoas a protestar nas ruas contra os desmandos cometidos pela presidente. Sua atuação no relativo ao Poder Judiciário é bastante próxima ao mais elevado grau de autoritarismo, a exemplo do ocorrido em outros países adeptos da concepção bolivariana de manutenção do poder a qualquer custo com a interferência direta do Executivo no Judiciário. No tocante à liberdade de expressão então a intervenção é brutal, semelhante ao praticado pelas piores “neoditaduras” existentes no mundo. Ela não admite o contraditório, buscando calar a qualquer preço as opiniões discordantes.

No plano militar e internacional o diagnóstico ainda é mais grave. Nas relações econômicas internacionais o Brasil é escandalosamente prejudicado, em detrimento de outros países, em especial a China. A presidente Cristina pretende convencer as autoridades brasileiras a privilegiar os interesses argentinos em detrimento dos brasileiros. E o pior, parece que será bem sucedida, devido a razões ideológicas (fortalecimento político da aliada de idéias), apesar dos veementes protestos das classes produtoras brasileiras. As anteriormente briosas e bem aparelhadas Forças Armadas argentinas estão sobre ataque constante de adeptos do revanchismo radical por parte de militantes marxista-leninistas, travestidos de “socialistas”. Estão impossibilitadas de cumprir com suas missões constitucionais, sendo seus chefes submetidos a humilhações cada vez mais contundentes, sem oferecimento de uma reação a altura. Por esta razão, a presidente apenas atua no campo diplomático, sem sucesso, no relativo ao contencioso das Ilhas Malvinas, pois não aprendeu ser necessário respaldo militar às ações políticas internacionais.

É evidente que a situação no Brasil é bem diferente, principalmente no que tange à expressão econômica, porém nas demais expressões do Poder Nacional está perigosamente próxima. É motivo de espanto a passividade do povo brasileiro diante do tsunami de lama derramado pelos atuais detentores do poder político na sociedade brasileira. O “mensalão” de fato pode ser considerado como uma “piada de salão”, conforme previu o filósofo Delúbio, diante dos outros escândalos divulgados como os ocultos pelo abominável relatório (?) da CPI do Cachoeira e do novo “Rosegate”. E isto é apenas o que está vindo a público. Imagine, caro leitor, o que se esconde embaixo da parte visível deste “iceberg”. É difícil descobrir um partido político preocupado com um Projeto Nacional de Desenvolvimento e não com um projeto de poder como fim.

O Legislativo atingiu seu ponto mais baixo em uma escala de avaliação da história política brasileira. Somente a certeza da impunidade é capaz de explicar a sucessão de desmandos praticados e aprovados. O Judiciário, esperança de todos nós, começa a mudar do rumo tão aplaudido recentemente, na dosimetria dos réus do “mensalão”. A nova maioria já começa a aliviar as penas impostas, revelando o sucesso de manobras protelatórias praticadas por alguns de seus integrantes, abertamente, sem constrangimento. E a situação vai piorar com a posse dos novos ministros. É imperiosa a necessidade de mudança na forma de investidura, em especial dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), sob pena de controle total dos três Poderes pelos praticantes do “presidencialismo de coalizão”, desculpa esfarrapada para justificar o injustificável.

Nossas Forças Armadas, apesar das promessas, estão em permanente dificuldade para exercer plenamente suas funções constitucionais. A indústria bélica passou praticamente toda, por compra ou associação, para grupos estrangeiros, fato extremamente preocupante. E o mais grave é o que está ocorrendo com as novas gerações. Estão sendo muito mal preparadas, recebem sinais contraditórios no referente a princípios e valores, presenciam a predominância de medidas esdrúxulas como as de cotas em desfavor da meritocracia e são brutamente atacadas pela propaganda e difusão de toda sorte de perversões e vícios, sem possuir base axiológica para resistir ao ataque impiedoso dos “malignos”. O caótico resultado não é difícil de prever.

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