DESOBEDIÊNCIA CIVIL
Artigo
publicado em 12.07.2001 no Monitor Mercantil.
Prof.
Marcos Coimbra
Professor
Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e
Conselheiro da ESG
O Mahatma Gandhi foi um dos principais
líderes mundiais, de todos os tempos. De estatura modesta, magro, desarmado,
movimentava milhões de indianos contra a opressão inglesa. Foi preso, sofreu
muito, mas acabou alcançando seu
objetivo principal: a independência da Índia. Um dos mais importantes instrumentos
utilizados por ele foi a desobediência civil na qual o povo indiano
desarmado (pelos antecessores do Viva
Rio) enfrentava a tirania dos poderosos, escudados em canhões, navios de
guerra, metralhadoras, enfim toda a parafernália bélica da qual o império
britânico era detentor.
Analisando a conjuntura brasileira,
identificamos o Poder Executivo, utilizando a mídia amestrada, docemente
corrompida, com "musos e musas" do entreguismo, com o poder de
censurar e vetar até qualquer referência a quem desagrade aos "donos do
mundo", seus patrões, fazendo o que quer. E ainda possuem a desfaçatez de
pregar, contra a censura, em favor da liberdade de expressão, quando são os
primeiros a exercer seu arbítrio, censurando os que pensam diferentemente. O
Poder Legislativo, inteiramente submisso, mendigando cargos e verbas, com
honrosas exceções. Até o Poder Judiciário, considerado antigamente como última
esperança, dobra-se, decidindo, por 8 votos a 2, rasgar a Constituição. A
administração FHC, grande e verdadeira responsável pela grave crise sistêmica
enfrentada pela Nação, da qual a insuficiente oferta de energia é um mero
exemplo, possui poderes ditatoriais. Amanhã, se quiser, com a complacência do
Legislativo e do Judiciário, vai impor a pena de açoite aos pobres cidadãos.
Quem não se submeter aos seus caprichos, levará dez chibatadas, em praça
pública, com direito a transmissão direta de TV, para todo o país, através da
principal cadeia de comunicação do Brasil.
A propósito do envio ao Congresso pela
administração FHC da proposta de uma
pequena reforma tributária, cujo principal objetivo é a prorrogação da cobrança
da CPMF por mais 30 meses, que fatalmente será aprovada, em um país como o
nosso, onde a carga tributária chega a 33% do Produto Interno Bruto (PIB), sem
a contrapartida adequada, sob a forma de prestação de serviços de atendimento
às necessidades coletivas (saúde, educação, segurança, energia, transportes,
comunicações e outras), fica a idéia de
que a única solução é a desobediência civil.
Afinal,
até hoje, nenhuma instituição de proteção ao consumidor, nem qualquer partido
político questionou a cobrança da
famigerada contribuição provisória sobre movimentação financeira sobre os
salários e proventos dos trabalhadores. Ora, quem detém o controle do fator de
produção trabalho recebe em contrapartida sua remuneração, ou seja, salários. E
estes poderiam ser pagos, como antigamente, na boca do caixa, ou como é feito
ainda hoje pelo SENAC-Rio, para quem quiser, em espécie, através de envelopes
com o numerário no interior. Só recebe
no banco, quem assim o desejar.
Deste modo,
eliminar-se-ia a cobrança da CPMF incidente sobre os salários. Atualmente, as
empresas, além de não oferecer opção aos seus empregados, pois impõem aos
mesmos a abertura de uma conta no banco de sua conveniência, usufruem de
vantagens concedidas em função deste movimento, enquanto os bancos ainda cobram
do assalariado diversas tarifas, sob vários pretextos, além da CPMF. O
principal argumento dos defensores da manutenção desta contribuição reside
justamente no fato de que ela não pode ser sonegada, possibilitando a
descoberta de agentes econômicos que fraudam o recolhimento de tributos,
através do cruzamento de informações. Ora, isto não é válido para o
assalariado, que assim poderia ficar isento de mais uma contribuição, além de
livre da extorsão dos bancos. Por que os sindicatos, as centrais de
trabalhadores não agem neste sentido? Será que a maioria dos integrantes do
Supremo Tribunal Federal também vai obrigar os cidadãos a terem conta nos
bancos, uma para cada fonte empregatícia, escolhida pelos patrões, em função de
seus interesses? E quem garante que o recolhimento da CPMF é feito com a
correção devida? Por acaso alguma instituição fiscaliza o processo? Ou, falando
em português claro, será que o que é debitado em nossa conta é rigorosamente e
imediatamente depositado nos cofres do Tesouro? E este, faz o que com os
recursos? Lembram-se de que, no início da cobrança, o governo relutava em
fornecer os dados relativos aos valores arrecadados? Agora, estima-se que seja
do montante de R$ 18 bilhões anuais.
Fica a sugestão para os partidos ditos
de oposição, para os candidatos também e para as centrais sindicais que, ao
invés de defenderem os verdadeiros interesses dos trabalhadores, entram em
conchavos vergonhosos com a administração FHC, como , por exemplo, o
"acordo do FGTS". Lutem, enquanto é tempo, por bandeiras justas como
esta. Se não lutarem, estarão jogando o povo no caminho da desobediência civil,
praticada atualmente por milhões de pessoas, que não pagam conta de luz e estão
ignorando o racionamento, pois possuem "gatos" (ligações
clandestinas). A autoridade governamental que quiser verificar é só conferir,
por exemplo, no Rio de Janeiro, comparando a escuridão nos bairros de classe
média, em comparação com outros logradouros, fartamente iluminados. Ou então
observar os milhares de ambulantes que vendem de tudo, sem pagar qualquer
tributo, impedindo o livre trânsito das pessoas, em frente dos comerciantes
legalmente estabelecidos, em qualquer cidade grande. Ou nas centenas de
"vans" que praticam irregularmente o transporte coletivo,
estacionando em local proibido, engarrafando o já caótico trânsito das grandes
cidades.
Correio
eletrônico : mcoimbra@antares.com.br
Site
: www.brasilsoberano.com.br