DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

Artigo Publicado em Maio/2001 no Jornal OMBRO A OMBRO

O presidente do Banco Central, ex-assessor do megaespeculador Sr. George Soros, afirma que o país deverá crescer este ano mais de 4% e, nos anos seguintes, até a taxas superiores. Antes de mais nada, é nosso real desejo que, de fato, isto ocorra, pois o Brasil não suporta mais a manutenção do estado de estagnação, no qual se encontra já há algum tempo, mais precisamente desde a posse do presidente FHC. Contudo, para que tal previsão concretize-se, é importante refletir sobre algumas questões relevantes.

Existe um fator inibidor representado pela baixa taxa de investimento existente na nossa Economia, mantendo-se em pouco mais de 18% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto na década de 70 chegou a ser de 25%. Esta deficiência poderia ser compensada pelo aumento da importação de máquinas, equipamentos e outros. Porém tal providência provocaria um aumento considerável no déficit do balanço de pagamentos em transações correntes, ainda muito acima de 4% do PIB, ocasionando graves problemas para a nossa combalida Economia.

Outro ponto a considerar reside na análise do nível da atividade econômica, o qual é função do montante da demanda agregada, expresso pelo valor despesa interna bruta (DIB). A DIB é constituída pela soma do consumo das famílias, do consumo do governo, do investimento e das exportações. No momento, como já vimos, o investimento é modesto. A recuperação viria, então, por onde? As exportações estão crescendo timidamente. O consumo do governo, em seus três níveis, está sendo brutalmente refreado, em especial com a introdução da chamada lei Camata e da famigerada lei de responsabilidade fiscal. E como esperar uma recuperação proveniente do consumo das famílias, numa conjuntura em que o desemprego progride, os salários reais diminuem e a estagnação ainda resiste ? Fica então difícil acreditar numa recuperação real da Economia, no nível previsto pelos mais otimistas. Para haver crescimento, é vital haver não só um aumento da oferta global, como também da demanda global.

E é necessário recordar a diferença existente entre os conceitos de crescimento econômico e desenvolvimento econômico. O crescimento econômico caracteriza-se por um aumento quantitativo na produção de bens e serviços, graças a atuação de um ou de dois fatores de produção preponderantes, geralmente capital e tecnologia, expresso, por exemplo, pelo aumento do PIB. Já o desenvolvimento econômico é caracterizado por um aumento, não só quantitativo, como também qualitativo, em função da participação harmônica de todos os fatores de produção, consubstanciado por um processo de transformação social, com o progressivo deslocamento da mão-de-obra do setor primário para o setor secundário e para o setor terciário, expresso , por exemplo, pelo crescimento do PIB, com minimização das disparidades de renda, a nível pessoal, regional e setorial.

Há pouco tempo atrás, a mídia amestrada batia o bumbo para o fato de que a taxa de crescimento do PIB, no corrente ano, seria superior à taxa de inflação, o que não está se confirmando. A taxa de inflação caminha para algo em torno de 5%, enquanto o PIB deverá crescer em torno de 4%. E, apesar disto representar um avanço, mesmo um crescimento do PIB de 4% em 2001 será

modesto, se analisarmos nossas necessidades, bem como a taxa histórica de crescimento do PIB brasileiro, ao longo dos tempos, de 7% ao ano.

Para que os bons tempos da Economia Brasileira retornem, é necessário uma mudança radical no atual modelo econômico adotado pela administração FHC, de inteira subserviência aos ditames do sistema financeiro internacional, com a abdicação da Soberania Nacional, apenas capaz de fazer o Brasil retornar à situação de colônia. Teremos que colocar no poder outra administração, compromissada verdadeiramente com os interesses nacionais, capaz de multiplicar por menos um o atual modelo, substituindo, de início, a "variável-meta" de estabilidade da moeda para pleno emprego dos fatores de produção com sua digna remuneração. Até lá, teremos que contentar-nos com as "migalhas" deixadas pela potência hegemônica e por seus verdadeiros condutores.

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia na Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG

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