DESAFIOS PARA SERRA

Prof. Marcos Coimbra

Conselheiro Diretor do CEBRES, Professor de Economia e Autor do livro Brasil Soberano.

(artigo publicado em 25.03.10 no MM)

         Caso o governador José Serra seja de fato o candidato da coligação PSDB/DEM/PPS contra a candidata imposta por Lula, ele enfrentará desafios semelhantes aos doze trabalhos de Hércules.

         De início, terá que enfrentar a formidável máquina formal e informal  montada pela administração petista ao longo dos dois mandatos do “pequeno timoneiro”. No formal, são cerca de 40 ministérios ou órgãos assemelhados, dezenas de estatais, além de polpudas verbas provenientes do sistema financeiro internacional e nacional, que nunca ganharam tanto, quanto nos sete anos de Lula, nem com FHC. Somando-se a isto o poder incomensurável das empreiteiras, agraciadas por obras faraônicas, interessadas em retribuir os favores obtidos, como forma de garantia dos contratos futuros.

          Some-se a isto o poder de mobilização das administrações estaduais e municipais de aliados e não aliados, pois todas dependem muito da boa vontade da administração federal para poderem realizar uma gestão razoável. E  dezenas de milhares de comissionados em funções do tipo DAS, na sua grande maioria  incapazes de obter um trabalho digno, através de concurso público, reféns da boa vontade dos dirigentes político-partidários e das lideranças sindicais cooptadas. Afinal, muitos recebem em um mês o que ganhavam em um ano de trabalho duro. Agora, são viagens ao exterior, diárias vultosas, cartões corporativos, verbas secretas e outros mimos. Não querem voltar à planície. Estão dispostos a quase tudo para assegurar sua manutenção no poder.

         No informal,  há milhares de ONGs inteiramente dependentes de verbas públicas, em especial federais, que empregam pessoas carentes, necessitadas, incapazes de absorção pelo mercado formal de trabalho, que se agarram nestas funções como a derradeira tábua de salvação. E os denominados “movimentos sociais”, como MST e congêneres e as organizações tuteladas pelas benesses petistas e de aliados como o PC do B, tipo UNE, CUT e outras.

         Estão formando um exército de um milhão de “voluntários” para atuar na Internet, defendendo a candidatura da ex-guerrilheira e agredindo os adversários. Obviamente, o “voluntariado” é uma questão de vida e morte para eles. Estão lutando para manutenção dos privilégios. Não é  por ideologia.

         Serra não poderá ignorar também as estocadas a serem recebidas do Legislativo, onde na prática inexiste oposição, por cooptação, medo, preguiça ou falta de dignidade. Se um Carlos Lacerda tivesse reencarnado lá, Lula já teria saído do poder há muito tempo. A chamada “oposição” mia como um gatinho, enquanto a situação ruge como um leão, com raras exceções.

         No Judiciário, mais da metade dos componentes das mais altas cortes de Justiça do Brasil foi nomeada por Lula. Como esperar que um ex-advogado do PT, na função de ministro do STF, nomeado por Lula, possa ser imparcial em um julgamento de uma contenda,por exemplo, eleitoral? Já foram cassados dois governadores de oposição (Paraíba e Maranhão) pelo TSE e mais um está também na guilhotina (Brasília). Por que os que estão em situação semelhante, pertencentes a partidos aliados da administração petista, continuam impunes? E as punições para os réus do mensalão? Vão escapar sorrindo, como o prognóstico feito pelo filósofo Delúbio, que acaba de ser homenageado pelos formandos de uma Faculdade de Administração, ministrando uma palestra sobre Ética, por ter colaborado com verba para a realização do evento?

         A mídia, com raras exceções, depende das verbas de publicidade da União, das estatais, dos grupos financeiros e das empreiteiras. Quem diverge e verbaliza sua crítica é silenciado. A exposição positiva de Lula é digna de um plano de  Goebbels. Ele aparece todos os dias em praticamente todos os principais veículos de comunicação, em especial na televisão, mais vista pelas classes D e E, segmentos mais importantes em uma eleição. Lula é o pai dos pobres e a mãe dos ricos, aliança imbatível.

         Serra possui a seu favor a sua história de vida. Comparando-a com a de Dilma, é covardia. É como colocar a Seleção Brasileira de futebol para jogar com o Íbis. E tem apoios fortes. Não há como ignorar o poder do Estado e do Município de São Paulo, possuidores dos maiores orçamentos do Brasil, depois da União. Vamos supor que apesar do exposto Serra ganhe a eleição. Como irá administrar o Brasil?

          Poderá obter a maioria no Congresso, mas enfrentará uma oposição firmemente encastelada em todos os três poderes e nos escalões intermediários. E o PT é ruim de governo, mas ótimo na oposição. Sua administração será um inferno. Uma sucessão de greves, sabotagens, tentativas de impedimento, Enfim, será muito difícil para ele assegurar sua permanência no poder. Quem o apoiará? Quais as instituições com as quais ele contará? Apesar de possuir algumas idéias próprias, sendo inclusive um crítico contumaz da gestão no Bacen de Meirelles, como implementará seu plano de governo, caso diferente do atual, continuação da gestão FHC em muitos aspectos? É bom ele começar a agir pensando no futuro que o espera.

         A propósito, o autor não é eleitor de Dilma, nem de Serra ou Marina. Estamos a procura de um candidato que, de fato, seja benéfico para o Brasil.

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