DESAFIOS DO TERCEIRO MILÊNIO
Prof. Marcos Coimbra
Professor Titular de Economia junto à
Universidade Candido Mendes, Professor aposentado na UERJ e Conselheiro da ESG.
Artigo publicado em 03.06.2004 no Monitor Mercantil.
As condições básicas para um país ser
independente, no mundo de hoje, são a auto-suficiência em alimentos, energia e
remédios. Um exemplo disto pode ser encontrado observando-se a atuação da
potência hegemônica, os EUA. Possuem capacidade de produzir alimentos, não só
para abastecer o mercado interno, como também para exportarem para o Resto do
Mundo, constituindo-se na maior nação vendedora de grãos. No campo de
medicamentos, também dominam a tecnologia de vanguarda, sendo capazes de prescindir de auxílio externo, por
intermédio da exploração de recursos naturais de todos os países do mundo, em
especial de nossa floresta amazônica. Contudo, na área de energia são
dependentes. Daí é explicável a ação dos EUA no Oriente Médio, em especial no
Golfo Pérsico, onde com o apoio de Israel conseguem controlar toda a região,
ocupando o Iraque e mantendo em permanente defensiva o Irã e outros países produtores de petróleo.
Entretanto, suas necessidades são tão grandes, que os obrigou
agora a procurar outras fontes de petróleo. O interesse dos EUA na região do
Mar Cáspio é flagrante. A região é rica em ouro negro. A ofensiva na Europa
Central, com a destruição da Iugoslávia, é sinal claro de quais serão os
próximos passos dos EUA. O massacre no Afeganistão e o controle do Paquistão
são outros indícios flagrantes. Até no Brasil, a quebra do monopólio estatal do
petróleo é um exemplo das intenções dos nossos irmãos americanos. Os EUA
importaram em 2001 da Venezuela, Colômbia e do Equador mais petróleo do que da
Arábia Saudita e do Kuwait. Daí entende-se a dolarização da economia no
Equador, a implantação do Plano Colômbia e a tentativa de um golpe branco na
Venezuela. A partir de mais dois ou três anos, o Brasil não precisará mais
importar petróleo, passando a exportador em 2015. O nefasto Acordo de Alcântara
objetivava, na realidade, criar um enclave americano no território brasileiro,
com a criação de uma base sob controle da potência hegemônica, fechando o cerco
sobre a região Amazônica, sem limite de tempo para sair. Afinal, quem se
arriscaria a denunciar o Acordo, caso assinado?
Analisando a situação brasileira,
diagnosticamos que no setor alimentos, há possibilidade de triplicar nossa
atual produção de grãos, com a mesma área cultivada. É vital investir em
pesquisa, assistência técnica e tecnologia. A EMBRAPA, hoje manietada pela
falta de recursos, deverá ser novamente fortalecida, a fim de cumprir seu nobre
papel de agente de fomento à produção agropecuária, com a geração de tecnologia
de ponta. E ainda existe a possibilidade de expansão da área cultivada.
Contudo, no setor de energia, o Brasil, até há pouco tempo atrás, tranqüilo,
viveu o drama do “apagão”, mercê da incúria, desídia e incompetência da
administração FHC. Isto, em um país possuidor da maior reserva de água doce do
mundo, com uma Matriz Energética baseada no insumo água, sem poluição e de baixo
custo. Razões incompreensíveis levaram a administração FHC a tentar mudar esta
confortável situação, obrigando-nos a importar gás da Bolívia. E todos
conhecemos a riqueza de URUCU.
Nossa maior vulnerabilidade reside
justamente no setor medicamentos, pois somos muito dependentes dos alienígenas.
A grande maioria dos laboratórios existentes no Brasil é dominada, bem como a
tecnologia e a matéria prima também, pelos estrangeiros. Recentemente, foi
descoberto que um alfa bloqueador, medicamento bem barato, usado no controle da
hipertensão arterial, possuía efeitos significativos no combate à hiperplasia
prostática. Foi retirado de mercado e relançado, com outro nome fantasia, muito
mais caro. O mesmo aconteceu com o Regaine (minoxidil) e com o Lipofacton, do
laboratório Organon. Será necessário um esforço gigantesco, mas não impossível,
da sociedade brasileira, para, com base na rica biodiversidade existente em
particular na região Amazônica, aplicar investimentos vultosos em pesquisa,
objetivando tornar a nação auto-suficiente em uma geração, pelo menos no
tocante à medicina curativa essencial.
Infelizmente, a conclusão extraída da
atual conjuntura é a de que a Soberania Nacional corre cada vez mais risco. A
ordem jurídica não é mais respeitada no território nacional. As autoridades
locais submetem-se a diretrizes determinadas pelo Resto do Mundo. Burocratas de
terceiro escalão do FMI regulam até o volume de investimento na área social. A
famigerada Lei de Responsabilidade Fiscal foi adotada, por imposição do FMI.Os
incautos não perceberam que essa Lei limita as despesas de custeio, justamente
para propiciar superávit fiscal primário, sem incluir o item juros. Como
assegurar recursos para aplicação na infra-estrutura social?
Para mantermos nossos Objetivos Nacionais
Permanentes, em especial a Soberania Nacional é indispensável o urgente
fortalecimento das nossas Instituições, em especial de nossas Forças Armadas, além da existência de um governo apto a
enfrentar o que será talvez um dos maiores
desafios da nossa História. Preservar para os nossos filhos aquilo que
foi tão duramente conquistado pelos nossos antepassados. Afinal, o Brasil é dos
brasileiros! Caso permaneçamos indiferentes, ausentes, medrosos, nossos filhos
terão o direito de cobrar-nos: Por que
não fomos capazes de, além de doar nossas vidas em defesa do que recebemos,
dar-lhes razão para continuarem a viver dignamente? Nossos ascendentes foram
capazes de vencer desafios muitos maiores no passado, assegurando-nos este
paraíso de mais de oito milhões e
quinhentos mil km2, praticamente todo aproveitável, possuidor de vastos
recursos naturais, com um só povo, uma só língua, sem conflitos étnicos,
religiosos, raciais. Superar os obstáculos existentes é nosso dever. É
simplesmente uma questão de vontade política. Vamos agir enquanto é tempo.
Correio eletrônico: mcoimbra@antares.com.br
Sítio: www.brasilsoberano.com.br