CONSEQÜÊNCIAS DA SUBSERVIÊNCIA

Prof. Marcos Coimbra

Membro efetivo do Conselho Diretor do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor aposentado de Economia na UERJ e Conselheiro da ESG

Artigo publicado em 06.03.2008 no Monitor Mercantil

         Atravessamos uma mais graves crises da história pátria, em função principalmente do grau de dependência externa, motivado pela adoção de uma política entreguista, onde autoridades públicas exercem as funções de representantes do capital transnacional. Apesar de possuirmos inúmeras condições para sermos uma das potências mundiais emergentes do terceiro milênio, ao lado da China, Índia e Rússia, falta principalmente vontade política para concretizarmos tal objetivo. As últimas administrações têm sido impostas através do uso intenso da mídia amestrada, que só expõe positivamente os candidatos patrocinados pelo sistema financeiro, da manipulação dos resultados dos institutos de pesquisa de opinião pública, de eleições sem a devida fiscalização e da manipulação dos resultados da "urna eletrônica". Daí resulta que a atual administração escolheu, de início, uma forma de inserção dependente e não soberana no mercado internacional, pois optou por enquadrar-se no rígido modelo determinado pelos “donos do mundo”, o qual não foi bem sucedido em nenhum país que o tenha adotado.

         Na expressão política não encontramos partidos que possuam as mínimas condições para exercer o seu papel principal de intermediários entre o povo e o governo, com raras exceções. Não possuem ideário, tábua de valores, doutrina, princípios programáticos bem definidos.  Na realidade, o seu verdadeiro objetivo é assumir o poder, não como um meio para alcançar os objetivos nacionais permanentes, mas sim como um fim para auferir benesses e vantagens. A corrupção e o nepotismo alcançam níveis nunca imaginados.A Nação foi dividida em "capitanias hereditárias", onde cada região ou estado é dominado por um "cacique" ou por uma plutocracia, combinando não só o poder político, como o econômico e o controle dos meios de comunicação de massa. Desta forma, são imbatíveis eleitoralmente falando, perpetuando-se no poder e transmitindo-o de pai para filho (a), ao longo dos tempos.

O poder executivo legisla por intermédio de medidas provisórias, usurpando a função do poder legislativo e procurando controlar o judiciário, configurando uma verdadeira ditadura constitucional monolítica. E o sistema já está preparando a figura do sucessor, através da apresentação de candidatos que, apesar de aparentemente independentes e de oposição, servem aos mesmos interesses, os da Tri-Lateral e de seu representante nas Américas, o Diálogo Interamericano.

         Na expressão econômica, as previsões mais otimistas, de economistas ligados ao governo, apontam para um crescimento de cerca de 5 % do PIB. Isto representa, de fato, um significado pífio, considerando-se o crescimento dos outros componentes dos BRICs. As administrações atuais persistem na tresloucada idéia de privatização selvagem, em atendimento aos interesses externos. Nossa infra-estrutura econômico-social continua sendo destruída. As comunicações já foram entregues. Os preços sobem pelo IGP e os serviços pioram. O transporte, em grande parte sob o regime de concessão ou permissão, é um setor onde os empresários privados atuam em cartéis, dominando o mercado e livres de uma efetiva fiscalização. As principais rodovias e estradas vão sendo privatizadas e seus felizes concessionários cobram pedágios extorsivos, como o caso da Via Lagos. Até os aeroportos estão ameaçados de privatização. O problema é que, continuando o mesmo padrão dos outros setores, vão ocorrer falhas graves. A diferença é que, ao invés do estrago de um eletrodoméstico, vão continuar a cair aviões, com centenas de vidas em jogo.

 A energia também está sendo entregue. A distribuição já foi. Agora, querem "doar" a CESP. Até cometem a insanidade de tentar privatizar a CEDAE no Rio. E os estrangeiros que, é lógico, serão os compradores, não estão interessados em investir. Querem comprar, com recursos do BNDES, o que está pronto e lucrar, demitindo funcionários, aumentando preços e deteriorando serviços. As conseqüências são previsíveis. Falta de energia. "apagões", enfim o inferno que está ocorrendo nos outros setores privatizados. Os combustíveis vão subir de novo. A taxa de juros arbitrada pelo BACEN continua em imorais 11,25%. Os juros cobrados pelo sistema financeiro aumentam a cada dia. Os preços são progressivamente elevados. Os índices oficiais de inflação não refletem a realidade. É o preço da desnacionalização de nossa economia.

Na expressão psicossocial o desemprego continua elevado, qualquer que seja o índice empregado. O Brasil possui atualmente mais de 12 milhões de trabalhadores desempregados ou parcialmente desocupados. A saúde pública é sucateada  ao paroxismo.  Não há dúvida de que é a preparação para a privatização. Atualmente, quem não tem um plano particular de saúde está condenado à indigência. Está fadado à morte, sem assistência médica adequada, sem dignidade. E quem tem, apenas passou a ter aquilo que todos nós possuíamos anteriormente. Assistência de razoável categoria. A educação pública também está sendo sufocada, com verbas cada vez menores, para permitir a expansão do ensino privado. A insegurança cresce avassaladoramente. A previdência pública está sendo aniquilada, para permitir o domínio do setor pela iniciativa privada.

         Na expressão militar, o sucateamento imposto às Forças Armadas, os baixos salários e a crescente perda de sua capacidade operacional, em conjunto com a criação do ministério da Defesa, impossibilita-as, na prática, de cumprir suas missões constitucionais, como a manutenção da integridade do patrimônio nacional. A Amazônia corre sério risco de internacionalização e nossas Forças Armadas não têm condições de, numa guerra convencional, mantê-las, segundo declarações de seus ex-comandantes.

         Infelizmente, esta é a análise possível de ser feita, com um mínimo de critério, isenção e imparcialidade. Contudo, nem tudo está perdido. O bravo povo brasileiro cansou de dar provas concretas, no passado, da sua capacidade de superar condições adversas, ultrapassá-las e retomar o caminho inexorável do desenvolvimento e da segurança, a fim de ser a potência do terceiro milênio.

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