CENÁRIO
PROVÁVEL
Artigo publicado em 07.11.2002 no Monitor Mercantil.
Prof. Marcos Coimbra
Professor Titular de Economia junto à Universidade Candido Mendes, Professor na UERJ e Conselheiro da ESG.
Somos daqueles que acreditam na necessidade de ruptura com o Fundo Monetário Internacional (FMI), como uma das medidas indispensáveis para recuperação da Economia Brasileira, por fundadas razões. Todos os países que adotaram o receituário do Fundo não conseguiram mais sair da crise, vivendo um círculo vicioso: arrocho fiscal-contenção de gastos-recessão-desemprego-miséria. Contudo, reconhecemos ser difícil para o presidente eleito, na atual conjuntura, proceder a este rompimento, de imediato. De início, é preciso antes diminuir o grau de vulnerabilidade de nossa Economia, minimizando seus riscos. É vital reduzir a elevada taxa de juros praticados, bem como o volume das dívidas externa e interna e o saldo negativo do balanço de pagamentos em transações correntes.
Depois, progressivamente, implementar as políticas e estratégias explicitadas no Plano Nacional de Desenvolvimento elaborado pelos novos detentores do poder político, objetivando alcançar o crescimento econômico com qualidade, gerando mais empregos, pagando melhores salários para a classe trabalhadora. Realizar uma reforma tributária capaz de aliviar a brutal carga imposta aos trabalhadores, compensada pelo aumento da tributação aos segmentos mais privilegiados, por exemplo, a categoria dos empresários financeiros. Adotar uma política de rendas destinada a minorar as desigualdades na forma de repartição de renda no Brasil. Desta forma, vamos combater a exclusão social, a miséria, sem adoção de medidas assistencialistas e paternalistas.
Esta seria a agenda inicial a ser adotada por uma administração nacionalista e preocupada em assegurar o pleno emprego dos fatores de produção. Entretanto, a futura administração Lula não terá condições de assim proceder, sob pena de inviabilizar-se no curto prazo. Como deverá então fazer?
Poderá ir diminuindo gradualmente o grau de dependência econômica do Brasil ao exterior, mantendo o acordo vigente, altamente lesivo aos interesses nacionais, mas procurando mantê-lo apenas no primeiro ano, afastando-se passo a passo dos grilhões que escravizam o país hoje em dia, a fim de abandoná-lo tão logo consiga captar a confiança da sociedade e dos investidores.
O difícil será compatibilizar a prática
da nova administração com o discurso feito na campanha. Como integrá-los? A expectativa por
avanços econômicos significativos, devido à demanda reprimida, é grande e o
tempo não é aliado. Cada dia que passa sem o atendimento das carências
existentes representa menos crédito a ser concedido. Outro problema reside no
choque entre as principais correntes existentes no PT, que abrangem um leque de
180°. Como harmonizá-las? E
existe ainda a perspectiva de conflito de objetivos qualitativos e
quantitativos, no horizonte temporal, provocados por órgãos como a CUT e o MST.
Como resolvê-los?
Outra questão relevante refere-se às negociações com os demais atores políticos, em especial sindicatos de empregadores e trabalhadores e partidos políticos. Como atender aos pedidos e solicitações que serão feitos, em sua grande maioria clientelistas e oportunistas, sem comprometer o prometido no ideário do partido e na campanha? A futura administração não terá maioria no Congresso, tendo assim que negociar cada projeto proposto, pormenor a pormenor. E serão negociações muito duras, realizadas com políticos profissionais, acostumados a auferir benesses, sem conceder qualquer coisa em contrapartida.
Estas são considerações importantes para reflexão por parte de todos aqueles que amam o Brasil, para melhor resolução dos graves problemas brasileiros existentes.
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