A NOVA ORDEM MUNDIAL

Artigo publicado em 03.04.2003 no Monitor Mercantil

Prof. Marcos Coimbra

Professor Titular de Economia na Universidade Candido Mendes, Professor  na UERJ e Conselheiro da ESG.

              Em memorável discurso pronunciado em Brasília, o senador da República Roberto Saturnino Braga, representante do PT-RJ, declarou: "Se o argumento é só a força, se não vale mais o direito, se não vale a lei internacional, se não valem os organismos internacionais, se valem a força e o poder militar, então todos os países terão obrigação de se armar, melhorar sua posição militar, em relação aos demais países do mundo. Se passa a imperar a força bruta cínica, é bom que  adquiramos também, como nação, uma força que, pelo menos, tenha um caráter dissuasório, fabricando o que já podemos fabricar. Não há por que ficarmos respeitando um tratado de não proliferação quando o que prolifera é a força das armas, da força bruta. Se os parâmetros agora são outros, não há porque ficarmos presos a um compromisso que tinha outros pressupostos da legitimidade, do respeito à ONU, do respeito aos tratados internacionais. Se isso não vale, teremos que repensar nossa posição". É óbvio que se referia à agressão ao Iraque perpetrada pelos anglo-americanos.

              Depois da tragédia ocorrida em 11 de setembro nos EUA, surgiu uma reação natural dos governantes americanos, em resposta aos atos que chegaram a extrapolar o âmbito do terrorismo até então praticado. De início, várias perguntas surgem: a) como o sistema de inteligência americano, o mais bem aparelhado do mundo, através da NSA, CIA, FBI e outros,  foi incapaz de prevenir o ataque suicida? Sabe-se que o Mossad, por exemplo, é capaz de infiltrar-se até no Hamas e eliminar fisicamente, um a um, seus principais opositores, seja por intermédio de explosão de celulares, seja através de um míssil capaz de entrar por uma janela e desintegrar o alvo, em sua sala de jantar. E O Mossad atua em íntima cooperação com os órgãos de inteligência americanos; b) de que forma foi possível a precisão fria, cirúrgica, com que os atentados foram cometidos, sem uma estreita cooperação interna?  Tudo isto recorda-nos o atentado de Oklahoma e o assassinato do saudoso presidente John Kennedy.

              Mas o mais importante, no momento, é dimensionar a grandeza da reação da potência hegemônica mundial. Suas primeiras ações são preocupantes. No campo interno, a administração Bush enviou para o Congresso um anteprojeto de lei que limita drasticamente os direitos constitucionais do povo americano, chegando a admitir a validade de confissões obtidas sob tortura, fora do território americano. No âmbito externo, procedem a uma ofensiva diplomática, sem precedentes, para agir como uma administração interventora, de caráter isolacionista, a pretexto de combate ao terrorismo mundial. A movimentação das forças de combate sugeria muito mais do que o ataque ao Afeganistão e a Bin Laden. E  o ataque ao Iraque confirma isto. Os estrategistas de vários países começam a preocupar-se com a possível tentativa de implantação de um governo mundial, sob o comando dos EUA, como conseqüência das atrocidades sofridas em 11 de setembro por mais de seis mil pessoas, americanas e de outras nacionalidades.

              Isto porque existe claramente em ação a estratégia imposta pelos  "donos do mundo", os detentores do capital transnacional, líderes do sistema financeiro internacional, para progressivamente implementar um governo mundial. As etapas do processo estão claramente delimitadas, em linhas gerais. De início, a adoção da "globalização", nova denominação do "neocolonialismo", partindo dos países centrais para a periferia, com o domínio da expressão econômica do Poder Nacional, através da imposição dos ditames dos organismos internacionais: FMI, OMC, Banco Mundial, BID e outros. Abertura da economia, com eliminação de barreiras protecionistas, adoção da lei de patentes, inclusive com efeito retroativo, privatização selvagem, para transferir o patrimônio real das nações menos desenvolvidas para os detentores do "papel pintado", controle da inflação, para garantia do retorno das suas aplicações de capital e outras. A seguir, o total controle dos meios de comunicação de massa, seja através da colocação de pessoas de confiança, os "testas-de-ferro", até a participação via indireta no comando das empresas de jornalismo, ou emprestando-lhes moeda para mantê-los dependentes ou simplesmente remunerando regiamente os principais formadores de opinião e jornalistas famosos, montando a chamada "mídia amestrada".

              Em paralelo, atuam através da criação de inúmeras ONGs, financiadas pelo exterior, sem qualquer controle, com dirigentes percebendo salários invejáveis, sem prestar contas a ninguém e com recursos vultosos para colocar suas mensagens na imprensa, objetivando fabricar a chamada "opinião publicada". Falam em nome do povo (sociedade civil), sem procuração. Trabalham incansavelmente para destruir as Instituições Nacionais: Família, Igreja, Estado, Escola, Empresa. Procuram demolir o Estado Nacional Soberano, minimizar a importância da Igreja, desmoralizar  os princípios e valores fundamentais da Família, da Escola e da Empresa. Sucateam as Forças Armadas, procurando subtrair-lhes quaisquer possibilidades de cumprir suas missões constitucionais. Tudo é feito em vários países simultaneamente, no mundo inteiro. Para isto criam organizações para cooptar lideranças existentes, para propiciar-lhes meios de assumir o Poder constitucionalmente e administrar segundo as suas determinações.

              Nas Américas, foi criado em 1982 o Diálogo Interamericano, cujo site pode ser acessado via Internet por qualquer interessado (http://www.iadialog.org). Os inocentes úteis que persistem em tentar ridicularizar o fato dizendo que "isto é bobagem, fruto da teoria da conspiração", podem acessá-lo e verificar inclusive seus integrantes e principais financiadores. O famoso Consenso de Washington, de 1988, é apenas uma derivação do Diálogo. Não é coincidência que a mesma política neoliberal seja adotada por países como a Argentina, Brasil, Chile, Peru e outros. Em todos foi imposta a criação do ministério da Defesa, para o "controle civil dos militares", por exemplo, bem como a privatização de setores estratégicos como comunicações, energia, água, vitais para a sobrevivência no terceiro milênio.

              A conclusão lógica é a de que o Brasil, como os demais países na alça de mira, deve armar-se, dominar a tecnologia nuclear, bem como a espacial, a fim de ter poder dissuasório capaz de evitar problemas sérios em futuro próximo.

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