A LIÇÃO DAS ELEIÇÕES NOS EUA

Artigo publicado em dez.2000 no Jornal Ombro a Ombro

A recente confusão ocorrida na apuração das eleições presidenciais nos EUA proporcionam diversas lições para nós, brasileiros. É oportuno recordar que, com a queda do muro de Berlim e a destruição da antiga URSS, apenas os EUA podem ser classificados como uma potência mundial. Porém, em termos econômicos encontramos , no mínimo, uma tripolaridade, com o mundo dividido entre Blocos Econômicos Regionais (BER), ou seja, o Bloco Europeu (Comunidade Econômica Européia, capitaneado pela Alemanha), Bloco Asiático (chefiado pelo Japão) e pelo Bloco Americano (comandado pelos EUA, através do controle do NAFTA). Apenas quatro nações possuem condições de alterar tal estado de coisas: China, Brasil, Índia e talvez a Rússia, revivendo das cinzas. A China e a Índia estão conseguindo manter suas respectivas soberanias, no chamado mundo globalizado de hoje, imposto pelos donos do mundo. A Rússia luta para sobreviver e, apesar de destruída economicamente, ainda é detentora de poder militar. O Brasil está sendo inserido subalternamente no processo de "planetarização", dirigido por representantes do sistema financeiro internacional. Somente conseguirá voltar a ter esperança de ser uma potência com a substituição radical dos atuais detentores do poder político no país.

A votação nos EUA ocorreu há mais de três semanas e, até hoje, não há um vencedor oficial, pois apesar da certificação do resultado da Flórida em favor do candidato Bush, o que lhe proporcionaria a vitória no colégio eleitoral, o outro candidato, Sr. Gore, contesta na Justiça o fato. Acreditamos que a Suprema Corte americana é que decidirá o assunto, bem como na confirmação da eleição do Sr. Bush. Porém, analisando com mais profundidade as causas da atual situação vivenciada pelo país mais adiantado do planeta, diagnosticamos a existência de uma nação dividida rigorosamente em duas partes. Entre os americanos mais tradicionais, descendentes dos primeiros colonizadores, que ficaram com o candidato republicano e os mais liberais, oriundos de outras correntes migratórias mais recentes, que aderiram ao democrata. A diferença programática entre os dois partidos, antes significativa, hoje diminuiu muito, fato agravado pela postura dos dois candidatos, ambos bem parecidos, com discursos semelhantes e medíocres. A sorte deles reside na solidez das Instituições americanas, ainda incólumes, ao contrário do Brasil, onde observamos sua destruição progressiva.

Um fato significativo é digno de registro. As diferenças entre o processo eleitoral brasileiro e o americano. Lá, voto facultativo, independência de cada Estado da Federação para decidir sobre o processo eleitoral (alguns Estados adotam o voto eletrônico, outros o manual e outros a perfuração de cartões). Aqui, voto obrigatório, existência de uma imposição do poder central sobre os Estados, caracterizada pela existência de uma Justiça Eleitoral (que na realidade inexiste na prática, somente atuando em época de eleições), a qual obrigou a adoção do chamado voto eletrônico.

Alguns brasileiros jactam-se da modernidade de nosso sistema, afirmando que estamos a frente deles. Contudo, uma observação mais acurada desperta-nos uma série de dúvidas: 1) apesar de tecnologicamente mais avançados, por que não escolheram o sistema eletrônico (a empresa que o implantou no Brasil foi comprada por eles); 2) houve diferença do total apurado em vários condados na Flórida entre a primeira apuração eletrônica, a segunda e a recontagem manual, fato que não poderia existir segundo os defensores do voto eletrônico. Quem errou? 3) Como poderia haver no Brasil uma recontagem manual de votos, como eles estão realizando?

Nós somos mais capacitados tecnologicamente do que eles? Algo está errado.

Marcos Coimbra, Professor

Professor Titular de Economia na Universidade Candido Mendes, na UERJ e Conselheiro da ESG

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