ADMINISTRAÇÃO ESQUIZOFRÊNICA

Prof. Marcos Coimbra

Membro do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor aposentado de Economia na UERJ e Conselheiro da ESG.

Artigo publicado em 12.07.2007no Monitor Mercantil

         A mídia informa que Lula conta com 65% de aprovação da população brasileira, segundo dados colhidos em recente pesquisa. Em nossa experiência na área de mercadologia e pesquisa de opinião pública, aprendemos que não é muito difícil direcionar uma pesquisa deste tipo. Há várias formas de manipulação, inclusive com as perguntas formuladas de modo adequado, tendo em vista obter o resultado esperado por quem paga o trabalho. Existe ainda o aproveitamento da exposição positiva propiciada pela mídia amestrada, dependente dos anúncios pagos pelos diversos órgãos da administração direta e indireta da União, bem como por empresários amigos. Feitas estas ressalvas, não há como negar que, pessoalmente, a avaliação de Lula ainda é altamente positiva, apesar do formidável caos administrativo e do vácuo de autoridade existente no país.

         As diversas crises e escândalos noticiados, em escala crescente, diariamente, nos três Poderes e nas administrações federal, estadual e municipal, proporcionam ao cidadão comum um justo sentimento de revolta e indignação, o qual contribui para o enfraquecimento das Instituições brasileiras. O principal responsável por este processo é justamente o Poder Executivo Federal, não havendo como ignorar que estamos em um sistema presidencialista, onde o responsável por tudo de bom ou ruim ocorrido é o presidente da República.

         A distorção flagrada reside no fato de que só o lado positivo é usufruído por Lula, enquanto os aspectos negativos passam a não ser debitados a ele. Para a maioria da população brasileira, os congressistas, juízes, ministros e outros acusados podem ser culpados de corrupção passiva, contudo esquecem que, se alguém é subornado, é porque alguém pagou. E quem subornou? A imprensa silencia e a sociedade ignora. Talvez esta seja uma das razões para a avaliação contrária à lógica dos fatos.

         No critério eficácia então o resultado é assustador. O “apagão” não é só aéreo. É geral. Existem mais de 20.000 “cumpanheiros” comissionados por indicação político-partidária, principalmente pertencentes aos quadros petistas, independentemente de mérito. Quase 40 ministérios ou secretarias assemelhadas. É impossível administrar desta forma, mesmo que os quadros fossem de excelente qualidade, o que não ocorre, com raras exceções.

 Somente agora, depois de anos de esquecimento, diante da perspectiva concreta de um novo “apagão de energia” nos próximos dois anos, é que ressuscitaram a energia nuclear, reativando não só Angra III, como despertando para a necessidade da construção de pelo menos mais três ou quatro usinas nucleares. Também somente nesta semana foi vencida a resistência do segmento “ambientalista” infiltrado no IBAMA, contrário ao Desenvolvimento Nacional, dependente de ordens externas, no tocante a licença-com 33 ressalvas - para a construção das usinas hidrelétricas do Rio Madeira (Santo Antonio e Jirau), o que ainda é insuficiente para atendimento às necessidades vitais do Brasil.

Na área externa, após o perdão de dívidas de diversos países estrangeiros, sem o aval do Congresso Nacional, continua o processo de submissão. Os fatos de o país pagar anualmente mais de R$ 160 bilhões de juros por ano, bem como possuir a mais elevada taxa real de juros do mundo, demonstram quem manda de fato, ou seja, o sistema financeiro internacional e seus agentes internos. A tibieza demonstrada no trato com a Bolívia abriu o precedente. Primeiro, o Paraguai. Agora, até o Equador. E por trás de todo o processo a inspiração chavista. A cada dia, a administração federal vai cedendo mais e aceitando exigências absurdas, em detrimento do povo e da Nação. E quem paga e pagará? Somos nós e as gerações futuras.

A fraqueza evidente da administração central tornou-a refém de qualquer segmento capaz de pressioná-la. Os aeroportuários, às vésperas do Pan, conseguem sem maiores problemas, aquilo que outras categorias profissionais, como médicos, professores etc. tentam obter há anos sem sucesso. E o exemplo passa a ser seguido pelos outros. Até no Estado do Rio de Janeiro, a polícia civil decreta uma greve de 48 horas, podendo ser ampliada. Integrantes da polícia militar ameaçam cumprir sua missão, combatendo, por exemplo, o jogo do bicho e outras atividades irregulares.

Um marciano chegado ao Brasil, ao ser confrontado com os discursos de Lula e o comportamento de sua administração, enlouqueceria. Pensaria que Lula é o líder da oposição à administração federal, que é comandada por ele próprio. Até quando isto continuará a ser realidade? Possivelmente, até o momento em que a conjuntura econômica mundial deixar de ser tão favorável, em função da teoria dos ciclos econômicos. Ou então quando Lula deixar de atender aos anseios do grande capital transnacional, fato pouco provável.

Assim, quando a nossa economia sofrer as conseqüências de uma previsível desaceleração da atividade econômica mundial chegará a hora da verdade, quando todos nós, brasileiros, teremos que assumir nossas responsabilidades.

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