A CONCENTRAÇÃO DE RENDA E O PODER

Prof. Marcos Coimbra

Membro efetivo do Conselho Diretor do CEBRES (Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos), Professor aposentado de Economia  na UERJ e Conselheiro da ESG.

Artigo publicado em 31.01.2008 no Monitor Mercantil

Desde tempos remotos, quem é detentor do poder político, situação esta originária do controle também das expressões econômica, psicossocial, militar e científico-tecnológica, emprega-o como instrumento de obtenção de rendas cada vez maiores e, conseqüentemente, do acúmulo de riquezas. O processo, na antigüidade, era mais ostensivo. Simplesmente dominavam outros povos, conquistando-os militarmente, para saquear suas propriedades, roubar suas riquezas, violentar suas mulheres, escravizar seus povos e, até mesmo, cobrar-lhes resgate, pedágio e tributo. Foi assim na Roma antiga. Poucos possuíam muito. Muitos possuíam pouco.

         Com o avanço do processo civilizatório, o método tornou-se menos bárbaro. As nações mais poderosas constituíam colônias, impondo-lhes sob a força das armas, um comando proveniente do exterior, que obrigava os povos dominados, escravizados, a fornecer seus recursos naturais de graça e mão-de-obra ao custo de subsistência. Assim foram formados grandes impérios, como o da Inglaterra. De novo, poucos possuíam muito e muitos possuíam muito pouco. Porém, com o correr dos tempos, as colônias foram obtendo suas respectivas independências, pela força ou pela diplomacia. Os dirigentes vindos do exterior, os conquistadores, foram preparando substitutos locais, membros dos povos dominados, para assumirem o poder. Alguns, na maioria, o fizeram na qualidade de prepostos, para continuar o processo de espoliação. Outros foram ludibriados. Tinham boas intenções. Desejavam administrar de acordo com o interesse público, mas não tinham os meios necessários, tanto econômicos, quanto tecnológicos, para permanecer no poder político. Eram substituídos por outros, mais subservientes e próximos dos verdadeiros donos do poder, no exterior.

         Continua o processo. Atualmente os "donos do mundo" manipulam os países centrais, utilizando processos mais sutis. Continuam a explorar as nações periféricas, através das leis do livre cambismo, em nome da globalização e do neoliberalismo, empregando os laços de dependência econômica, tecnológica, política, psicossocial e militar. Os índices de relação de troca mostram, ao longo dos anos, a deterioração dos termos de intercâmbio comercial, prejudicando as nações periféricas, em benefício dos países centrais. Existem no mundo três tipos de países. O primeiro, constituído das nações mais poderosas, exportadoras de tecnologia e importadoras de matérias primas e manufaturados. Possuem autonomia econômica e tecnológica, sendo auto-suficientes em alimentos, energia e medicamentos. O segundo, composto por nações médias, fornecedoras de manufaturados e matérias primas, mas sem autonomia nas três áreas estratégicas. O terceiro, formado por nações mais modestas, meras fornecedoras de matérias primas, sem independência em qualquer uma das áreas estratégicas.

         Desta forma, a renda concentra-se cada vez mais, sendo subtraída dos países menos desenvolvidos e adicionada aos países mais ricos. Os instrumentos mais utilizados são, além dos termos de intercâmbio, os juros das dívidas interna e externa, a remessa de juros, lucros, dividendos, "royalties", fretes e outros. Os órgãos internacionais, como o FMI, Banco Mundial, BID, OMC são agentes deste processo perverso que objetiva garantir a abundância dos países mais ricos e a pobreza dos países mais pobres. Os fluxos de renda são favoráveis aos países centrais e desfavoráveis às nações periféricas, acelerando a acumulação de capital dos "donos do mundo". O objetivo deles é manter esta situação, impedindo qualquer outra nação a ascender tal patamar, inclusive por intermédio de ações psicológicas, via meios de comunicação, chegando até ao emprego da força militar. Daí a importância do desarmamento da população das potências emergentes e ascendentes, bem como o processo contínuo e inexorável de sucateamento das Forças Armadas e da proibição do domínio da tecnologia nuclear.

         O mesmo processo utilizado internacionalmente é reproduzido em cada nação, agravando o mecanismo perverso de concentração de renda. As classes mais ricas elegem seus representantes políticos, que legislam e administram em proveito deles. O Judiciário é imobilizado. O processo eletrônico de apuração das eleições, recusado por 45 outros países, não possibilita a recontagem de votos, impedindo assim a conferência dos resultados anunciados pelas autoridades. Assim, os privilegiados usam os recursos públicos em seu favor, não pagam impostos, "grilam" terras, exploram seus trabalhadores, fixando metas desumanas, ficando cada vez mais ricos, enquanto os pobres tornam-se cada vez mais miseráveis. Mais uma vez, poucos possuem muito e muitos possuem muito pouco.

         No Brasil esta triste reprodução é agravada pela corrupção endêmica que atinge a praticamente todas as categorias e classes sociais. Os “donos do mundo” chegam ao cúmulo de manipular até as convenções de diversos partidos políticos, de modo a que os candidatos vitoriosos rezem todos pela mesma cartilha. Caso algum candidato, não comprometido, consiga ser entronizado para concorrer às eleições majoritárias, será cooptado ou destruído pela mídia amestrada. Já é conhecido por todos que possuem neurônios em funcionamento os futuros candidatos à Presidência em 2010. Não há qualquer um deles que represente, de fato, uma opção comprometida com o interesse nacional.

         Não é justo, nem lógico, nem inteligente a manutenção desta situação. O povo brasileiro merece respeito e dignidade. É chegada a hora de todas as pessoas de bem unirem-se para que, algum dia, nossa Pátria volte a ser o que já foi em tempos passados. Um Brasil soberano, em ritmo de desenvolvimento, funcionando quase a pleno emprego, com uma classe média pujante e com a contrapartida de serviços coletivos dignos.

Vamos lutar para alterar este caótico estado, onde predomina o “apagão geral”, enquanto é tempo!

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