RÉQUIEM PARA PAES

Artigo publicado em 19/11/2015 - Monitor Mercantil

 

Economista Marcos Coimbra

Professor, Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e Autor do livro Brasil Soberano.

Diante da sucessão de graves desmandos, falhas, omissões e erros de toda ordem cometidos pelo tradicional político Paes, reeleito em primeiro turno prefeito no Rio de Janeiro, o réquiem deverá ser a finalização lógica para a sua carreira política, pelo menos para eleições majoritárias.

Eleito “vendendo” aos eleitores a “idéia-força” de que o município do Rio de Janeiro somente seria viável, caso contasse com o beneplácito de administrações federal e estadual correligionárias, concepção aceita, tanto é que foi eleito com ampla maioria, fruto de uma aliança PT/PMDB com mais uma penca de outros partidos. De fato, vieram verbas expressivas e projetos de magnitude, capazes de, em mãos hábeis, consagrarem um razoável administrador. Contudo, mercê da falta de competência, de liderança, de bom senso, de capacidade de formar equipes eficazes, de humildade, ele foi incapaz de gerir com sucesso o potencial recebido de forma a propiciar a evolução esperada do município.

Dotado de personalidade arrogante, tipo dono da verdade, inimigo do diálogo, imaginou que o eleitorado teria lhe concedido uma licença para tudo fazer, sem auscultar a opinião pública do povo fluminense e carioca. Julgou-se uma espécie ampliada de 007 dos filmes de ação.

Segundo o “ex-blog” do vereador César Maia: “De forma quase simultânea, o PMDB no governo estadual e na prefeitura da capital introduziram políticas de esfacelamento do setor público, substituindo o servidor público, em funções precípuas, por ONGs, OSs, Empresas, Institutos e Fundações. Uma questão nuclear, que não entendem aqueles que argumentam com uma, suposta (argh), maior eficiência do setor privado, é que em funções precípuas do Estado, o servidor público, estatutário, concursado, estável, é a única garantia de um serviço público adequado pelo acúmulo de experiência, básico na prestação de serviços públicos essenciais.

A estabilidade é a única forma de que a experiência acumulada-fundamental para o exercício das funções sociais (Saúde, Educação, Assistência Social...), das funções institucionais (Procuradoria, Fazenda, Controladoria, Administração...) e das funções urbanas (Urbanismo, Transportes, Infraestrutura...)- seja transferida na forma de serviços públicos que atendam a população. Sem esta experiência acumulada, milhares de pessoas perderiam a vida ou ficariam com sequelas pela inexperiência ou pela rotatividade características da privatização/terceirização na saúde pública. O terreno preparatório desses processos é a desmoralização do servidor, dando destaque e generalizando casos específicos e aleatórios de mau exercício de função. A privatização da Saúde Pública é um escândalo de bilhões de reais”.

Recentes exemplos demonstram com clareza o exposto acima.  O alcaide conseguiu êxito em sua tresloucada decisão de derrubar o Elevado da Perimetral, com o absurdo argumento de que é feio. É óbvio que existem outras razões por baixo dos panos. Afinal, aquele monstrengo existente na Av. Presidente Vargas não teria sido construído se predominassem razões estéticas. E o que dizer da horrenda ponte estaiada do Jardim Oceânico na linha quatro do metrô. E da ciclovia capaz de impedir a visão do mar na Avenida Niemeyer? É incoerência pura.

Diante do caos no trânsito, experimentado pela população carioca, demorando horas para ir e retornar do trabalho, na melhor das hipóteses até o ano de 2016, quando, se tudo correr bem, as obras serão concluídas. Na tentativa de substituição do importante Elevado, a solução apresentada pelas autoridades é não usar o carro particular, utilizando o transporte público (se existisse em qualidade e quantidade, de fato seria uma alternativa) ou empregar o transporte solidário. Paes entrará para a história do Rio de Janeiro como prefeito do “engarrafamento definitivo” da cidade. Seiscentas lojas já foram fechadas no centro da cidade e mais de mil no município, não só em função da crise econômica, bem como da impossibilidade de acesso às mesmas em virtude das mal planejadas e intempestivas obras, alterando o cotidiano dos cidadãos a cada dia.

Agora, para culminar, surge o triste episódio envolvendo a pré-candidatura de seu pupilo favorito, o deputado federal e secretário todo poderoso de governo Pedro Paulo, acusado de ter mentido publicamente e de ter agredido fisicamente sua ex-esposa, por duas vezes. A indignação causada na população pelo fato havido parece ter levado o virtual candidato a desistir da empreitada, porém seu mentor o impediu de fazê-lo.

Na realidade, o prefeito aposta todas suas fichas nos dividendos possíveis de acontecer com a realização das Olimpíadas no ano vindouro, mas, caso o “legado” não seja o esperado, como ocorreu com a Copa do Mundo de Futebol, o povo não ficará muito satisfeito com os elevados custos de sua realização, estimados em mais de R$ 38 bilhões, valor superior ao planejado para recebimento pela administração federal, com a arrecadação anual da CPMF.

Então, chegará a hora da verdade!